segunda-feira, 30 de abril de 2012

O Dilema do Ouriço



Era uma vez um ouriço.

Vivia sempre sozinho apesar de desejar muito a companhia de outros.

Alguns até tentavam se aproximar dele, porém não conseguiam devido aos seus pontiagudos espinhos.

Quando ele tentava se aproximar de alguém, a mesma coisa acontecia. Cedo ou tarde ele acabava ferindo esse alguém.

Por sua triste sina, ele foi viver no fundo da terra, já que sua "toca" era a única que não reclamava de suas constantes cutucadelas.

Certa vez ele estava observando o dia de dentro de sua toca, triste e solitário.

Foi então que notou uma grande lagarta verde que se arrastava em uma vegetação à sua frente.

Notou que ela tentava entrar em um buraco numa casca de árvore, porém seu corpo era maior que o buraco.

Ela subiu num ramo de folha, tentou se esgueirar para dentro, mas não teve sucesso.

Foi então que o ouriço ficou penalizado pelo enorme esforço da lagarta e resolveu lhe ajudar.

Saiu de sua toca e usou seus espinhos para abrir um pouco mais o buraco para a lagarta.

E deu certo!

Ela conseguiu se esgueirar para dentro e lá ficou quieta.

O ouriço observou mais um pouco para ver se algo mais aconteceria, mas após algum tempo, resolveu voltar a cuidar de sua solitária vida.

E assim o tempo passou. A vida correu e o inverno chegou.

O ouriço tinha feito um bom estoque de alimentos em sua casinha então pensava apenas em como seria bom ter uma companhia. Alguém para dividir toda aquela fartura de sua toca.

Na primavera todos os bichos começaram a sair de suas tocas para receber os primeiros raios de sol.

Mas ele não.

Ficou ali parado observando a alegria de todos. Muitos filhotes davam seus primeiros passos e espalhavam alegria ao seu redor. Até ele sorriu levemente...

Foi quando notou que no buraquinho da árvore saia algo majestoso!

Uma bela borboleta azul agora exercitava suas asas em direção ao dia da primavera.

O ouriço observou a beleza de suas asas e lembrou de quando havia ajudado lagarta a entrar naquele buraquinho.

Ficou muito grato por ter podido ajudar tão bela criatura.

Quando a borboleta alçou voo, todos os animais ao redor ficaram maravilhados e muitos a seguiam aonde quer que ela fosse, buscando ver sua beleza um pouco mais.

Ela saiu de perto da toca do solitário ouriço enquanto outros animais a seguiam. Ele apenas a acompanhou com os olhos e caiu no sono.

Algum tempo passou...

De repente sentiu uma forte espetada em sua pata direita. Quando abriu os olhos viu uma bela ouriça a sua frente.

- Olá! Você mora ai? A muito tempo procuro algum amigo da minha espécie! Hoje estava passeando pelo bosque e vi essa linda borboleta azul. Não pude deixar de segui-la e acredite, ela pousou exatamente aqui na frente da sua toca!

E assim o ouriço, que cria ter uma vida solitária até o fim dos seus dias, viveu muito feliz ao lado da ouriça.

Ele então passou a acreditar na sorte. Mas será que existe mesmo sorte?

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Em uma Caixinha de Clipes...


Era uma vez um clipe.

Desde muito cedo questionava qual era o sentido de sua existência.

Lembrava de seus tempos de arame, quando ainda não tinha forma definida.

Naqueles dias era um só com todos os seus irmãos, enrolados em uma grande bobina de ferro. Não tinha consciência de seu começo ou de seu fim e assim vivia em unidade.

Porém chegou um dia em que foi colocado em uma estranha máquina, que passou a cortá-lo e contorcê-lo até ficar em um formato definido: o de um clipe!

Então ele passou a ter uma consciência separada, pois agora possuía seu próprio limite, formato e função.

E assim também aconteceu com seus irmãos. Todos foram formatados de acordo com as necessidades de outros, afim de servirem a uma determinada função que lhes foi imposta.

Logo foram colocados em caixas, embalados e distribuídos pelo mundo afora.

Quando ainda estavam na caixa, procuravam se enroscar uns aos outros para não se sentirem tão sós.

Alguns até conseguiam, mas logo que chegavam ao consumidor final, eram cruelmente separados uns dos outros e colocados nos locais mais diversos.

A maioria ia parar em frios escritórios, onde eram obrigados a trabalhar sem descanso. Tinham que dar a sua vida para segurar várias páginas, até que não aguentavam mais e rebentavam.

Alguns tinham mais sorte e conseguiam ficar presos em páginas próximas, outros porém eram colocados em muitas páginas e torcidos por pouquíssimo tempo, sendo imediatamente descartados após seu uso.

Outros eram apenas retorcidos e jogados fora sem ao menos terem sido utilizados.

Muitos eram os destinos e a sorte destes pobres clipes.

Porém no mais profundo de seu ser havia uma saudade. Lembravam com nostalgia de quando não se reconheciam como "indivíduos", de quando não eram "separados" e estavam ligados no "fio" da corrente eterna.

Mas eis que o tempo passa...

Muitos deles ficaram anos presos anos e enferrujaram junto aos seus velhos e amarelecidos documentos.

Porém todos, mais cedo ou mais tarde, acabaram tendo o mesmo destino: o lixo.

Amassados, sem sua antiga forma ou ainda em frangalhos, eles eram colocados em uma grande caixa que continha muitos de seus irmãos e parentes próximos: clipes, pregos, parafusos, etc,.

Todos rumavam para um lugar muito quente e a medida que se aproximavam, percebiam que iam perdendo os últimos traços de sua personalidade.

E esse foi o fim dos clipes e de sua solitária e triste história.

Mas eis que todo fim encerra um novo começo!

Juntamente com alguns de seus outros parentes eles puderam ser unidos pelo fogo, forjados e moldados em algo novo!

E que alegria veio com esse "novo"!

Perderam sua consciência de "clipes" e assumiram seu papel de "gira-gira" em um parquinho de uma vila.

Puderam com a sua morte e transformação dar alegria a muitas crianças e lhes mostrar, com seu exemplo, que tudo é uma eterna roda.

O "gira-gira" da vida e da morte.
World Of Warcraft, WoW Short Sword