quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O Escorpião e o Sapo


Certa vez, em meio a uma grande enchente, um escorpião aproximou-se de um sapo.

O escorpião vinha fazer um pedido:
- Sapo, você poderia me carregar para outro lugar para fugir da inundação?

O sapo respondeu:
- Só se eu fosse tolo! Você vai me picar, eu vou ficar paralisado e vou afundar.

Disse o escorpião:
- Isso é ridículo! Se eu o picasse, ambos afundaríamos.

Confiando na lógica do escorpião, o sapo concordou e levou o escorpião nas costas, enquanto nadava para atravessar o rio.

No meio do rio, o escorpião cravou seu ferrão no sapo.

Atingido pelo veneno, e já começando a afundar, o sapo voltou-se para o escorpião e perguntou:
- Por quê me ferroou? Agora ambos vamos morrer! Por quê?

E o escorpião respondeu:
- Por que sou um escorpião e essa é a minha natureza.

*Antiga lenda indiana. Século 3 AC.
http://en.wikipedia.org/wiki/The_Scorpion_and_the_Frog

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Nos caminhos de Otogse


Sabemos que todas as pessoas possuem boas e más qualidades.

Mas esse não era o caso de Otogse. Ele era mau.

Otogse era movido por um impulso de satisfação pessoal. E para esse fim, tudo valia a pena.

Desde criança gostava de judiar dos animais. Várias vezes atacou cães, gatos e pássaros, apenas para sentir que estava no controle, para se sentir superior.

Quando ficou mais velho passou a observar a sociedade. Buscava sempre obter prazeres a custa da dor e do sofrimento alheios.

Era invejoso e adorava mentir, enganar, ridicularizar, ofender e outras coisas que não merecem serem ouvidas por pessoas decentes.

Pessoas decentes? Pois é, justamente essas que quase deixaram de existir!

Vou lhes contar uma outra parte da história.

Por ser extremamente mau, ele conseguia ser equilibrado, frio e calculista. Fingia ser amável e assim conquistava o crédito das pessoas, apenas esperando o momento certo para golpeá-las de uma só vez.

Otogse ainda caluniava a vida de alguém secretamente e depois que todos estavam contra essa pessoa, ele mudava de lado, passando a defender a pessoa que antes atacara. Agindo assim, ele mesmo criava a oportunidade para parecer bom aos olhos de todos.

A ignorância fazia com que as pessoas fossem enganadas. O comodismo fazia com que não se arrependessem e a ganância fazia com que reproduzissem esse mau comportamento.

Seguindo essa inércia, muitos passaram a trilhar os caminhos de Otogse.

Mas algo certo no mundo é que tudo tem um limite, e que as coisas tendem a um equilíbrio natural.

Várias pessoas passaram então a negar as atitudes de Otogse e incitavam outras a abandoná-las, pregando ideais mais elevados.

Na sua engajada luta por suprimir as influências de Otogse, muitas dessas pessoas perceberam que é extremamente difícil tirar as outras da inércia.

Descobriram ainda que apenas conseguiam bons resultados usando alguns dos mesmos métodos empregados por Otogse. Isso criou uma tremenda confusão! Como atacar algo sem lutar contra ele? Sem odiar o que nos é oposto? Isso toda luta exige! Mas o ideal justifica os meios?

Os homens perceberam que deixar Otogse livre era extremamente danoso, porém ao mesmo tempo já não conseguiam persuadir ninguém sem utilizar os seus métodos.

Decidiram então aprisioná-lo sob os alicerces de nosso mundo. Ali ele estaria em seu lugar, sendo responsável por cada passo, porém estando oculto como objetivo final.

Quando passeamos por um lindo parque ou cidade moderna poderíamos imaginar que logo abaixo dela é Otogse que sustenta todo esse progresso?

Os homens preferem ocultar podridão e viver em um mundo aparentemente bonito.

É essa contradição que tem em mãos a bandeira do progresso.

Se tivermos olhos para ver, poderemos perceber que Otogse desafia constantemente sua prisão.

Uma tampa de bueiro vazando, outra explodindo, e locais emitindo mal cheiro...

Eis aí a prova de que Otogse continua seu caminho, mais ativo do que nunca...

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Onamuh, o cego e os mil jás


Onamuh vivia à beira de um grande e profundo lago.

Todos os dias ele pegava seu pequeno barco, remava até o meio do lago e começava a pescar com a sua pequena varinha de bambu.

Essa era a rotina de um homem solitário, um homem que carregava o peso dos dias em suas feições já bastante envelhecidas.

Onamuh já havia visto muitos invernos.

Já havia sido jovem e ambicioso. Lutou para conseguir espaço na vida.
Já havia trabalhado muito. Alimentou a luta com seu próprio suor e sangue.
Já havia tido muitas mulheres, Lutou para conquistar cada noite de aconchego.
Já havia se casado. Lutou para conciliar as diferenças entre um ser e os outros todos.
Já havia tido e criado seus filhos. Lutou para alimentar e prover o necessário a cada boca de sua prole.
Já havia vivido suas paixões e decepções. Lutou para se reerguer a cada tropeço.
Já havia enterrado os entes queridos. Lutou contra a perda e teve forças para manter a cabeça erguida
Enfim, já carregava o peso de uma vida toda sobre os ombros curvados.

Recentemente percebeu que sua vista já não estava tão boa quanto costumava ser.

Seus olhos guerreiros já não conseguiam vislumbrar com exatidão a silhueta esguia dos frutos de seu passado.

Percebeu que a cada dia, estava ficando cada vez mais cego.

Mas o que importa perder mais uma coisa quando já se perdeu muitas?

E começou uma nova manhã, especialmente ensolarada.

E acordou Onamuh, com sua vara e seu barco. Já estava na hora de reproduzir mais uma vez a contagem regressiva que resumiam seus dias.

Ao entrar no barco e remar um pouco, Onamuh notou que já não enxergava mais a margem do lago.

Remou mais um pouco e se viu só, sem forças, sentado em seu pequeno barco.

De repente ouviu vozes... Grandes e altas gargalhadas.

Percebeu que próximo dali um menino sorria e brincava, pulando no lago do alto de uma pedra.

Pensou em como gostaria de poder ver essa criança brincar, como seria gratificante perceber sua alegria e disposição. Lembrou porém que isso era impossível, pois já estava praticamente cego.

Então Onamuh chorou.

Nesse instante percebeu um movimento em seu pequeno barquinho. Levantou os olhos e viu o menino sentado a sua frente com um grande sorriso no rosto.

- Tio! Você pode me ajudar?

Onamuh não conseguiu nem pensar no que responder em meio aquela estranha situação e seus lábios inconscientemente balbuciaram:

- Sim, em que posso ajudá-lo?

E o menino continuou:

- Tinha um bonito medalhão que ganhei um dia de meus pais. Há muito tempo o perdi nesse mesmo lago. Todos os dias venho aqui para procurá-lo, mas nunca o consigo encontrar. Será que o senhor poderia procurar ele pra mim?

Onamuh pensou e respondeu ao menino:

- Minha criança. Já estou velho, já não enxergo muito bem, já não tenho as forças de antigamente, já não sei o que fazer para encontrar coisa alguma. Já estou quase morrendo, o que eu poderia fazer para te ajudar? Já pensou nisso?

E o menino respondeu:

- Tio, o senhor já esta fazendo, obrigado.

- Como assim? Já?

- Já sim! Agora! Sei que o senhor não possui os meios para encontrá-lo, mas pedi que o procurasse, e isso o senhor já esta fazendo.

Onamuh, ouviu o que o menino disse. Seus olhos vislumbraram então um raio de sol incidindo na água, e no fundo do lago avistou um brilho dourado.

E ele então sorriu... Pela última vez...

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A velha e boa Oaca Cude


Oaca Cude era uma sábia tartaruga que vivia no bosque Edadeicos.

Sua vida servia de exemplo para todos os animais do bosque, pois admiravam sua mansidão, tolerância e paciência.

Quando os jovens do bosque atingiam certa idade, eram levados a Oaca Cude para que pudessem ser por ela instruídos.

Não muito longe dali vivia Aju Sacob, um castor que se recusava a ajudar os outros castores a trabalhar nos diques.

Sua vida consistia em fazer trocas das mais diversas mercadorias buscando sempre auferir o maior lucro possível em suas transações.

Por esse comportamento Aju Sacob sempre fora evitado pelos outros animais, pois todos sabiam que sua atitude era imoral e não merecia ser encorajada.

E assim a vida no bosque era, na medida do possível, harmônica entre seus habitantes.

Mas os tempos mudaram...

A busca pelo conforto, supremacia e ostentação, fez com que os animais passassem a buscar cada vez mais os conselhos de Aju Sacob para alcançarem seus objetivos, esquecendo os antigos valores.

Até certas tradições foram deixados para trás, poucos continuavam levando seus filhos para conhecer a velha Oaca Cude.

Obstinados, os animais passaram a não medir mais esforços para expressar seus desejos e fazer tudo o que fosse possível para que eles se tornassem realidade.

Vários animais se esqueceram dos conselhos de Oaca Cude e passaram a ser rudes uns com os outros.

Felizmente ainda existem alguns animais que levam seus filhos para ver a velha tartaruga.

Eles são minoria, mas mantêm vivas as tradições de nobreza de Oaca Cude.

Contribuem assim para que o bosque Edadeicos não se torne completamente caótico.

E você? Ouviria ainda os conselhos de uma velha tartaruga?

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Edadrev e o bosque Savert


Já passava das 9:00 da manhã quando Edadrev acordou. Levantou com um salto da cama, penteou seus cabelos e correu até a cozinha do castelo para procurar algo para comer, já que o horário do café da manhã havia acabado a muito tempo.

Seus pai o Rei Otsenoh e sua mãe, a rainha Selpmis já estavam a muito tempo passeando pelos jardins do castelo, como era costume em toda a manhã de sol. Enquanto tomava café lembrou com alegria de todas as vezes que passeava com seus pais e das adoráveis conversações. Não queria se atrasar para tão prazeiroso passeio, então engoliu um pão com leite e correu ao encontro dos dois.

Sim! Vocês já devem ter percebido que Edadrev era uma princesa. Desde criança era conhecida por sua beleza, tanto que em todo o reino nunca se viu formosura igual.

Edadrev sempre fora muito querida por todos por sua amabilidade e simpatia. Era conhecida também por sua bondade e senso de justiça. Sua presença trazia conforto e segurança a qualquer um que precisasse de ajuda.

Ela encontrou seus pais e os três passaram a caminhar alegremente. O Rei Otsenoh olhou momentaneamente para o sol e disse para Edadrev:
- Querida filha, lembre-se que sua missão como princesa é ser justa e amável com todos. Nunca se esqueça disso.

Neste momento a rainha Selpmis acrescentou:
- Lembre-se sempre do essencial minha filha, aquilo que é invisível aos olhos e alegra o coração.

Edadrev então perguntou:
-O que é essencial? Invisivel aos olhos?

Selpmis respondeu:
- No momento certo, quando você estiver madura, encontrará a chave para abrir o que ninguém fecha e fechar o que ninguém abre. O mais oculto, o interior do interior.

Edadrev achou bastante confusas as palavras de sua mãe. Mas percebeu que elas traziam um conforto para seu peito, então calou-se e continuou a caminhar.

Muitos anos se passaram desde aquele passeio, Edadrev crescia  a olhos vistos e sua beleza aumentava a cada primavera que findava...

Não muito longe dali havia um velho bosque que era evitado por todas as pessoas deste reino. Seu nome era Savert.

No meio do Savert vivia uma velha bruxa, seu nome era Adivud. A bruxa adorava descaminhar viajantes desavisados e colocá-los em situações difíceis. Adivud fazia com que as pessoas ficassem presas, se sentissem perdidas e muitas vezes estas paravam de caminhar e até morriam, por dar ouvidos a Adivud.

A bruxa Adivud não vivia sozinha, ela tinha dois filhos.

O mais velho chamava-se Odem, muito conhecido entre os viajantes. Odem era grande, feio e muito forte. Perseguia sem cessar quem adentrava no bosque Savert. Ele cercava suas vítimas e lhes paralisava apenas com o olhar. Famílias inteiras eram aterrorizadas por Odem e ficavam ali como estátuas até se transformarem em mais uma ossada do bosque Savert.

O mais novo era Ovitaler. Ovitaler tinha uma bela aparência externa, porém seu interior era mau e ele seguia os mesmos passos de sua mãe. Ovitaler gostava de abordar as pessoas desavisadas com sua fala mansa e aparência agradável. Mais do que depressa conseguia conquistar a confiança de suas vítimas.

Porém logo começava a lhes mostrar várias opções de caminhos a seguir, gostava de analisar todos os pontos dos caminhos, esmiuçando cada passo até que o viajante era levado a exaustão por tanta tagarelice sem sentido e acabava por desistir da viagem.

E assim os três, Adivud, Odem e Ovitaler viviam dentro do Savert, aterrorizando as pessoas que por ali passavam...

Ocorreu então que em uma bela manhã, a princesa Edadrev resolveu passear sozinha pelos jardins e acabou se perdendo. Andou muito até perceber que estava em um local desconhecido. O jardim havia perdido suas cores vivas e acabou se tornando cada vez mais escuro. Edadrev se viu em um local com pouca luz que desconhecia completamente.

Ao caminhar sozinha pelo bosque escuro, logo deu de cara com Odem. Ao ver aquele monstro horrível ela correu em disparada até não ouvir mais aqueles pesados passos atras de si.

Foi então que ouviu uma doce voz:
- O que aconteceu minha querida? Você se perdeu? Pobrezinha! Vou te ajudar! E assim disse Ovitaler ao avistar Edadrev sozinha na floresta.

- Venha, vou te ajudar! Você quer fazer o que? Voltar de onde veio ou buscar uma outra saída? Depende né, porque se escolher o caminho mais curto, posso te guiar até um que haja menos perigos. Porém se quiser voltar por onde veio pode ser mais longo, mas com mais perigos. Na verdade tanto faz, pois os dois continuam escuros. Então o que você decide? Posso te aconselhar, mas não quero me comprometer, então vou ficar calado. Mas se quiser minha opinião, me pergunte. Posso na verdade te levar onde você quiser, mas não me culpe se der algo errado...

Edadrev sentia sua cabeça girar ao ouvir a voz de Ovitaler e acabou por desmaiar. Nesse momento chegou Odem que também a continuava perseguindo:

- Meu caro irmão Ovitaler, não percebeu quem é esta jovem? Seus olhos estão ofuscados por sua beleza? Esta é a princesa Edadrev, filha dos reis Otsenoh e Selpmis. Nossa mãe vai adorar este presente! Vamos levá-la!

E levaram Edadrev amarrada para a bruxa...

Nessa altura no castelo, o rei Otsenoh e a rainha Selpmis estavam procurando sua filha em todos os cantos. Após verificarem que ela não estava nos domínios do castelo, foram peregrinando pelo reino para procurar por sua filha.

A comoção foi geral pois Edadrev era amada por todos e muitos ajudaram na procura. Após algum tempo, um dos servos do rei encontrou um rastro que levava diretamente ao bosque Savert.

Então o rei Otsenoh foi até o centro do reino e anunciou:

- Minha filha Edadrev entrou no bosque Savert. Todos sabem muito bem os perigos que correm aqueles que realizam tal imprudência. Busco a ajuda de vocês, meus amigos, para encontrá-la!

Neste instante se destacou em meio a multidão um jovem. Ele tinha uma aparência comum, mas seus cabelos, vermelhos como fogo, lhes davam um ar completamente diferente dos demais:

- Sou Megaroc, filho de Oacaroc. Me coloco a disposição do rei a da rainha para buscar a princesa Edadrev!

A rainha Selpmis olhou ternamente para o jovem e disse:

- Megaroc, filho de Oacaroc, sua ação é nobre e sua postura digna! Por favor, traga Edadrev de volta do bosque Savert.

E assim Megaroc partiu imediatamente ao encalço da princesa.

Megaroc era, como seu pai um hábil ferreiro e sempre tinha embainhada sua espada, que ele mesmo confeccionara. Curiosamente Megaroc havia gravado em sua espada o nome de Edadrev, em homenagem a bela princesa.

Ele adentrou o bosque Savert e foi direto ao seu centro, onde ficava a cabana da bruxa Adivud. Ele fora avisado por seu pai de antemão onde o mal daquele bosque residia.

Ao chegar na cabana encontrou Odem e Ovitaler guardando a porta. Eles partiram para cima de Megaroc, porém Megaroc lutava com sua espada de dois gumes e sua bravura acabou por derrotar os dois.

Enfim adentrou a cabana e encontrou a velha Adivud e avistou Edadrev amarrada na parede.

Megaroc partiu para libertar Edadrev quando ouviu a voz de Adivud:

- Quem é esse jovem que adentra minha cabana? Você não quer ganhar nada, meu amigo? Juntos podemos   usar Edadrev para conseguir tudo o que quisermos! Tem certeza que não quer nada? O mundo oferece tantas oportunidades! Podemos ter uma vida de reis! Você pode ter uma vida de rei! Você precisa apenas negar Edadrev! Finja que nunca esteve aqui e te darei tudo o que quiser! Tem certeza que não quer?

Com essas e outras palavras Adivud tentava enganar Megaroc, que já estava exausto após a luta com Odem e Ovitaler começou a cambalear...

Nesse momento Edadrev acordou e viu o que se passava. Olhou o jovem Megaroc e viu seu nome escrito em sua espada. O jovem estava ofegante e zonzo devido ao poder de Adivud. Nesse momento Edadrev lembrou das palavras que sua mãe lhe dissera quando ainda era uma menina:

- Lembre-se sempre do essencial minha filha, aquilo que é invisível aos olhos e alegra o coração.

Nesse momento gritou para Megaroc:
- Amigo, em seu peito está um segredo, algo que nem o mundo nem ninguém pode explicar. Levanta tua espada com e em meu nome, rompe a couraça da ilusão e cumpre teu papel, ó herói dos heróis...

Ao ouvir isso Megaroc levantou sua espada e cortou as correntes de Adivud que prendiam Edadrev e os dois fugiram do bosque... E foram ao encontro do seu reino... dos reis do passado e de seu castelo... isto é, do seu verdadeiro lar.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Tenret-ni e a Fonte do Conhecimento


Tenret-ni era um jovem que vivia em um distante vilarejo.

Possuía uma memória excepcional e guardava cada palavra que lhe era dita.

Sendo um jovem comum ele adorava pregar peças nas pessoas. Gostava de contar piadas, tinha suas aspirações de grandeza, e também seus desejos mais ocultos... Coisas que todos nós temos.

As vezes suas atitudes pareciam estranhas aos olhos dos mais velhos. Mas olhar de um adulto sobre o mundo de uma criança carrega visões de coisas que existem concretamente para ele(adulto), porém são irreais para a criança, e vice versa. Sendo assim, as travessuras de Tenret-ni eram freqüentemente ignoradas pelos mais velhos.

O que os mais velhos não perceberam era que, através de suas travessuras, ele crescia e se tornava cada vez mais maduro. Tenret-ni estudou a estrutura dos pilares do mundo, onde estavam seus alicerces e suas características principais. 

Sua excepcional memória lhe dava a capacidade de acumular muito conhecimento, porém isso as vezes representava um perigo, pois nem sempre as informações que recebemos dos outros estão alinhadas com a verdade.

Mesmo assim, Tenret-ni não achou certo guardar todo esse conhecimento somente para si, passou então a distribui-lo às pessoas prazeirosamente, porém lhes advertia que não possuía o discernimento, isto é, cada um que bebesse de sua fonte do conhecimento deveria aprender de per si a distinguir o bem do mal, o justo do injusto e o belo do feio.

E assim passava seus dias, distribuindo conhecimento e conquistando a simpatia de muitas pessoas.

Certo dia ao caminhar pelo vilarejo notou algumas pessoas ao redor de uma alta torre. No alto da torre estava um homem grande e gordo. Seu nome era Redop, um criador de porcos.

Redop estava sentado em uma pequena cadeirinha, que mal aguentava seu peso. Ele tinha um objeto colorido e brilhante nas mãos e o exibia para as pessoas:
- Se não cumprirem as minhas ordens, vocês terão uma vida infeliz e a dor será vosso quinhão. Exijo que busquem os locais mais altos! Cuidado, aquele que não segue meus conselhos será sempre humilhado! Desejam ter grandeza aos olhos dos homens? Lutem pelo objeto sagrado! Somente o darei para os que me seguirem!

Tenret-ni notou que muitos homens que ali estavam largavam tudo o que lhes era mais caro na tentativa de subir a torre e alcançar o objeto sagrado. Alguns abandonavam sua família, outros seus amigos, e alguns até mesmo sua saúde, na tentativa de seguir os conselhos de Redop.

A medida que algum conseguia atingir o alto da torre, imediatamente ganhava o tal objeto, começava a engordar e a acenar para os outros que estavam abaixo. Troçavam dos que não conseguiam chegar nem aos pés da torre e se gabavam da nova boa vida que estavam levando.

Tenret-ni assistia atônito a esse estranho espetáculo. Deveria ele tentar alcançar o alto da estranha torre e ganhar o objeto sagrado?

Nesse instante Tenret-ni parou e pensou:
- Espera um pouco... Eu já vi esse tal "objeto sagrado" em algum lugar... Rapidamente buscou em sua vasta memória onde teria visto aquele objeto antes. Não foi tarefa fácil... Em meio a todo aquele conhecimento era difícil buscar algo específico. Após lembrar de inutilidades sobre inutilidades foi remetido para seus primórdios... Lembrou cada vez mais do princípio... Onde sua vida havia começado. Sentiu então os braços quentes e acalentadores de sua mãe, e então se lembrou! Quando bebê, possuía um desses objetos! Porém imediatamente percebeu que o objeto, de "sagrado", não tinha nada.

Era um chocalho!

Redop estava enganando aquelas pessoas pois, como era comum entre os adultos, ignorava-se o mundo das crianças. Os adultos se esqueciam que eles próprios haviam sido crianças e que a verdadeira função do chocalho é simplesmente distrair as crianças.

Mais do que depressa Tenret-ni tentou informar as pessoas de que o "objeto sagrado" era um chocalho, porém muitas delas reagiram de forma violenta. Principalmente as que observavam seus esforços do alto da torre.

Ardilosamente prepararam uma sopa e passaram a empurra-la goela abaixo em seus seguidores. Essa sopa tinha o poder de impedir os que a tomavam de beber da fonte do conhecimento de Tenret-ni.

E agora? Redop teria ganho a batalha no vilarejo de Tenret-ni?

Tenret-ni percebeu que a verdadeira batalha não estava em suas mãos. Poderia sim distribuir seus conhecimentos para aqueles que buscavam, porém continuava sem poder discernir o que era verdade do que era mentira. Apenas poderia dizer, pelo histórico de suas lembranças que o "objeto sagrado" era um chocalho, porém não sabia se aquilo era bom ou mal.

- De que adianta possuir os maiores tesouros do mundo se eles não trazem a luz da verdade a todos?

Ele percebeu que cabe a cada um escolher subir na torre de Redop ou manter-se próximo ao que lhe é mais caro.
Ele percebeu que cabe a cada um escolher quais conhecimentos obter e o que se fazer com eles.
Enfim, ele percebeu que cabe a cada um discernir a veracidade do conhecimento que lhe é dado.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A história de Odacrem, o Sarnento


Era uma vez um homem, seu nome era Odacrem.

Odacrem sofria de uma moléstia que sempre o acompanhou, porém ninguém conseguia identificar.

Certa vez um grupo dos melhores sábios da terra se reuniu para investigar Odacrem e dar um fim definitivo a sua doença.

Um dos sábios disse:
- Certamente não adianta discutirmos aqui sem examinarmos o paciente. Mande chamá-lo aqui!
E trouxeram Odacrem e lhe perguntaram o que sentia.

Odacrem, claudicando de ambas as pernas assim lhes falou:
- Quando meu exterior está mau, gozo de boa saúde.
- Quando minha aparência externa esta boa, meu interior esta tomado por dores agudas.
- Se quiserem me conhecer de verdade, precisam retirar essa casca que minha mulher Aidim colocou ao meu redor.

Resolveram então examiná-lo mais de perto.
Ao lhe despirem a casca perceberam que toda sua carne estava tomada por uma grossa camada de sarna. Tentaram lhe raspar 2 dedos de sarna, mas perceberam que a podridão lhe chegava até os ossos.

Tomados por horror após constatarem tal estado, lhe recolocaram rapidamente a pele e não comentaram mais sobre o mal desse homem, buscando cada um manter sua antiga reputação de sábio em seu local de origem.
World Of Warcraft, WoW Short Sword