Estamos em um poço em uma noite muito escura.
Até onde ele vai? Qual será o seu fim?
Dia a dia acabamos descobrindo que ele é sempre mais fundo. E quanto mais fundo descemos, mais sentimos o seu mau cheiro.
Queremos acumular muitas cargas, que julgamos serem úteis. Mas elas apenas nos fazem descer mais e mais rapidamente. Pesos mortos que carregamos.
Estamos em um poço em uma noite escura.
Há tempos não vemos a luz do sol. Os sonhos se foram, e os bons exemplos, se foram com eles.
Quem ousará falar da luz? Quem ousará levantar os olhos em direção à abertura? Quem ousará apontar o dedo a alguém? Juntos nos tornamos inúteis.
Estamos em um poço.
A inveja é a nossa lei. Quanto mais nos afundamos, mais temos vontade de levar outros conosco.
Nossas paredes são negras como o piche. O futuro não nos preocupa, pois apenas queremos nos manter respirando o maior tempo possível.
Um poço.
O ar se torna rarefeito. É difícil respirar. Mas continuaremos.
Ombro a ombro nesta louca peregrinação.
Onde somente a morte nos livrará... finalmente... de nós mesmos.