quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A Lenda das Sementes do Pântano


Eram tempos de guerra...

A atmosfera fria e sombria refletia continuamente nos rostos daqueles pobres diabos que, enfileirados para receber sua parte de ração, escolheram apostar sua vida por causa tão vil...

Que causa era essa? Servir aos caprichos do rei Edravoc.

Edravoc era o governante de um paupérrimo reino que ficava nas planícies ao oeste. Havia herdado suas terras através de uma linhagem de soberanos que nunca haviam se preocupado com o amanhã...

Seus ancestrais sempre exploravam ao máximo os recursos de seu reino e procuravam viver da forma mais espalhafatosa possível. Acreditavam que a "real nobreza" provinha da ostentação de suas riquezas perante seus súditos.

O início foi com o seu hecatontavô que utilizou a mão de obra e recursos do reino para construir um imenso castelo que pudesse servir a seus propósitos burlescos. Mas como disse, foi só o início. Cada filho quis ser tão grande como seu pai e procuravam construir um castelo mais grandioso e viver com ainda mais pompa que seu antecessor.

Não é de se admirar que após várias gerações de usurpadores, o reino caísse em desgraça total, e tenha se tornado uma terra quase deserta, cercada de construções abandonadas e sombrias.

Como cada novo rei não queria gastar seus recursos para manter o velho castelo de seu ancestral, apenas faziam a pilhagem do que julgavam útil nos velhos castelos e inauguravam o seu próprio às custas do espólio de seus antecessores.

Quem sempre perdia era o povo. Geração após geração procuravam maneiras de fugir daquela exploração contínua. Alguns juntavam o pouco que ainda lhes restava e fugiam na calada da noite.

Outros reprovavam abertamente os impostos cobrados e trabalhos forçados. Mas como acabavam desaparecendo sem deixar rastros, era cada vez mais raro alguém disposto a questionar as políticas do reino.

E assim a linhagem de Edravoc, a cada geração, foi acabando com os recursos naturais de seu reino, tornando-o pobre e desolado.

Foi então que o rei Edravoc teve uma ideia. Se nossa terra já não nos serve, iremos tomar a de outros!

Começou então a recrutar os poucos habitantes que ainda restavam para formar um exército. Após algum tempo conseguiu o apoio alguns poucos parvos, prometendo-lhes uma vida de sangue, ouro e outras promessas tolas.

Certa vez um velho habitante do reino furou o bloqueio dos lacaios e conseguiu ter com Edravoc em seu castelo. O rei teve tanto medo daquele velho que gritou para que seus guardas o acudissem.

O velho porém sorriu e disse com uma voz branda:

- Sua majestade! Por favor reconsidere a decisão de guerrear! Somos tão poucos. Nossos jovens estão tomados por pérfidas ilusões. Tenho a solução para nossos problemas sem que haja a necessidade de haver derramamento de sangue.

Edravoc olhou de modo esguio para o velho pois nesse instante seus guardas o agarraram grosseiramente. Estavam a chacoalhá-lo e alguns já até haviam desembainhado suas espadas.

Com a situação sob controle, Edravoc então lhe perguntou:

- Fale velho! Qual é sua sugestão? Se ela valer a pena sua vida será poupada!

O velho então começou a falar:

- Nossa terra está tão doente que nem mais lembramos como é viver bem. Por isso sua majestade deseja desbravar o mundo buscando novas terras para serem usurpadas. Porém o que acontecerá a elas quando seus recursos também se esgotarem? Iremos atrás de outras? E quando o mundo todo for vosso? Haverá algures terras férteis para conquistar quando a pompa e iniquidade se instalarem por todo o mundo?

Todos olharam espantados para o velho. E ele prosseguiu:

- Devemos é ter a decência de recuperar nosso próprio lar. Foi aqui que nossos ancestrais cresceram. Foi aqui que dei meus primeiros passos. Vossa majestade também! É mais fácil esconder nossas faltas e tomar dos outros o que julgamos necessário, porém isso apenas se torna em dor e desespero, poque falta algo importante: nosso merecimento.

- Merecer algo é possuir o sentimento legítimo de ter cumprido seu papel. Isso traz tranquilidade e paz de espírito.

O rei então olhou pela janela, e viu... uma vasta terra cinza, tomada por um odor desagradável.

- Velho. Como poderíamos fazer isso?

Os guardas então o soltaram e ele pegou um saquinho que levava amarrado a sua cintura e mostrou ao rei.

- O que é isso? Perguntou o rei.

-São sementes. Recebi-as de meu pai, que as recebeu do pai dele e assim por diante... Devemos plantá-las e assim devolver a beleza e a vida ao nosso reino.

O rei as olhou, olhou novamente pela janela... E pensou em todo o trabalho que teria para recuperar sua terra...

Pensou também que haviam muitas outras terras férteis onde poderia conseguir facilmente alcançar seus objetivos. Virou em direção ao ancião e lhe devolveu rudemente as sementes.

- Guardas! Levem-no para a masmorra! Preparem o exército! Atacaremos ao cair da noite! Preparem-se!

O pobre velho então perdeu o sorriso que havia habitado seu rosto. Respirou fundo e fechou seus olhos.

Esta foi a batalha mais curta da história. O "exército" de Edravoc foi completamente massacrado quando invadiu as terras do Rei Megaroc.

Reza a lenda de que quando os guardas de Edravoc revistaram o velho para levá-lo para a masmorra, não puderam encontrar as tais sementes.

Até hoje existem lendas sobre o paradeiro delas.

Uns dizem que elas desapareceram para sempre, assim como a linhagem de Edravoc.

Outros acreditam que elas continuam ocultas, no profundo coração daquela terra deserta que, um dia, voltará a florescer.

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