sábado, 24 de novembro de 2012

O Pequeno e Teimoso Fruto


Era uma vez uma grande e frondosa árvore.

Nela viviam uma infinidade de frutos.

Eram todos tão únicos e tão diferentes que frequentemente discordavam entre si sobre o que lhes era mais caro.

Uns gostavam mais do céu, outros mais da terra, e outros ainda eram apaixonados pelas noite de luar.

Mas, apesar das diferenças, todos eles percorriam seu ciclo natural em harmonia.

Nasciam verdinhos e pequenos, tímidos como quem começa a conhecer o mundo.

Amadureciam devagarinho, recebendo a seiva da árvore.

Seiva que carregava em si uma sentença para aqueles pequenos frutos.

Ela significava o sorvo da vida que os fazia crescer e ficar tenros.

Porém ao mesmo tempo era o veneno da morte, pois conduzia o processo de envelhecimento que os levava ao apodrecimento.

Um dia nasceu um fruto muito observador, ficou conhecido como Atsioge.

Logo que ele nasceu, passou a admirar tudo a sua volta: observava a terra lá embaixo, mirava o sol do meio dia, divertia-se com a chuva e adorava o barulho do vento quando este cortava as folhas da árvore...

Certa vez Atsioge notou ao seu lado um fruto muito enrugado e escuro...

Ficou curioso e perguntou:

- Porque você esta com este aspecto tão estranho? O que lhe aconteceu?

E o fruto, que mal conseguiu lhe responder, disse:

- Está consumado! Estou enrugado e negro como azeviche.

 - Já não consigo mais me segurar no galho, logo cairei...

Atsioge ficou horrorizado:

- Mas porque isso aconteceu? O que o levou a ficar assim?

- É a seiva da árvore! Ela nos faz crescer, amadurecer e findar. É o nosso destino...

- Como assim nós? Eu também terei que chegar a esse estado? Terei de ficar assim?

- Sim jovem fruto. Esta é a vontade de nossa mãe, a árvore.

Logo após dizer isso, o fruto velho se soltou do galho e caiu em meio a um universo de folhas e galhos...

O jovem fruto ficou com tanto pavor daquela situação que tomou uma decisão:

- Negarei a seiva de minha mãe! Assim jamais enfrentarei esse destino tão cruel!

E Atsioge se fechou então em si mesmo e passou a não mais receber sua parte da seiva.

Com isso conseguiu retardar o seu amadurecimento, mas como consequência foi se tornando cada vez mais duro e opaco. Perdeu o verde vivente que outrora era sinal de sua vitalidade.

Passou a desaprovar abertamente a mãe árvore e incitava outros a fazê-lo.

Conseguiu que vários outros frutos fizessem o mesmo, imputando-lhes o medo e a indignação perante o cruel destino que aguardava a todos.

Assim a árvore, que antes era frondosa e cheia de vida, foi se tornando sombria e seca.

Seu galhos e folhas já não refletiam a glória de outrora.

Um dia, ao entardecer, Atsioge ouviu uma voz que nunca havia sido ouvida.

Era a voz da árvore, sua mãe:

- Filho meu, fruto legítimo de mim mesma, porque negas meu alimento?

E ele,envolto em sonhos sombrios, respondeu:

- Não quero desaparecer! Não quero ir em direção ao nada! Porque nos dá a vida, a alegria e depois nos tira tudo isso? Qual é o seu divertimento? O que ganhas?

E a árvore lhe respondeu:

- Minha própria vida carrega essa sentença: A mudança. Dou tudo o que sou e possuo para que você possa nascer, amadurecer e seguir o caminho... Desconheço algo que esteja fora de mim mesma. Ao mesmo tempo conheço todas as tuas aflições. Confia em mim! Lança mão do medo, preocupação e ansiedade. Assim como eu fiz uma vez e todos os nossos fizeram antes...

Atsioge vacilou um pouco...

Pensou no seus medos... Mas pensou também que já não se sentia tão bem em seu estado atual.

Percebeu que já não era mais observador.

Havia esquecido do tempo em que vivia em harmonia com todos.

Ao invés disso, passava os dias reclamando de sua condição.

Não admirava mais a terra, a chuva, o vento, o sol...

Tomou então uma decisão. Voltou a beber da seiva de sua mãe!

Ao sentir o elemento percorrendo novamente seu interior, sentiu uma imensa alegria. Voltou a possuir um verde vivente.

Podia agora encarar seu destino. O calor daquela oferenda de amor lhe dava forças para enfrentar qualquer coisa.

Continuou a beber, tornando-se maduro... Sentiu que sua casca começava a secar lentamente. Sua visão já não era mais tão acurada como antes...

Continuou e foi escurecendo até tornar-se negro. Conhecia seu destino, porém já não tinha mais medo dele.

Atsioge não sabia, mas aquelas eram as últimas forças de sua mãe. Sua última seiva.

Após algum tempo, sentiu-se fraco e sem forças para se segurar no galho.

Instantes antes de se soltar e cair, entendeu que ele era o último fruto que sua mãe poderia alimentar, pois o calor da sua seiva havia desaparecido.

Arrependeu-se de seus atos e, finalmente, consumou a entrega de seu ser ao desconhecido.

Caiu, batendo em velhos galhos e ramos secos até atingir o chão.

A seiva da mãe árvore secou, levando sua vida para sempre...

Porém, algo maravilhoso aconteceu...

O fruto que fora alimentado pelo amor da mãe árvore atingiu o solo e serviu de alimento para a semente que jazia dentro dele. E esta logo começou a brotar.

Após algum tempo, tendo a terra como alicerce, recebendo o calor do sol, as águas da chuva e a vitalidade dos ventos; a semente pode crescer e se tornar uma frondosa árvore.

Essa árvore continua a produzir muitos frutos até os dias de hoje.

Todos são diferentes, uns gostam mais do verde, outros do vermelho, amarelo... Mas nenhum é abandonado, todos recebem sua parte de seiva.

Assim todo fruto carrega uma semente em seu interior.

Essa semente é feita da seiva do amor da árvore que se dá incondicionalmente.

Por isso toda semente carrega um segredo...

E esse segredo é o que realmente importa!

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