sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Onamuh, o cego e os mil jás


Onamuh vivia à beira de um grande e profundo lago.

Todos os dias ele pegava seu pequeno barco, remava até o meio do lago e começava a pescar com a sua pequena varinha de bambu.

Essa era a rotina de um homem solitário, um homem que carregava o peso dos dias em suas feições já bastante envelhecidas.

Onamuh já havia visto muitos invernos.

Já havia sido jovem e ambicioso. Lutou para conseguir espaço na vida.
Já havia trabalhado muito. Alimentou a luta com seu próprio suor e sangue.
Já havia tido muitas mulheres, Lutou para conquistar cada noite de aconchego.
Já havia se casado. Lutou para conciliar as diferenças entre um ser e os outros todos.
Já havia tido e criado seus filhos. Lutou para alimentar e prover o necessário a cada boca de sua prole.
Já havia vivido suas paixões e decepções. Lutou para se reerguer a cada tropeço.
Já havia enterrado os entes queridos. Lutou contra a perda e teve forças para manter a cabeça erguida
Enfim, já carregava o peso de uma vida toda sobre os ombros curvados.

Recentemente percebeu que sua vista já não estava tão boa quanto costumava ser.

Seus olhos guerreiros já não conseguiam vislumbrar com exatidão a silhueta esguia dos frutos de seu passado.

Percebeu que a cada dia, estava ficando cada vez mais cego.

Mas o que importa perder mais uma coisa quando já se perdeu muitas?

E começou uma nova manhã, especialmente ensolarada.

E acordou Onamuh, com sua vara e seu barco. Já estava na hora de reproduzir mais uma vez a contagem regressiva que resumiam seus dias.

Ao entrar no barco e remar um pouco, Onamuh notou que já não enxergava mais a margem do lago.

Remou mais um pouco e se viu só, sem forças, sentado em seu pequeno barco.

De repente ouviu vozes... Grandes e altas gargalhadas.

Percebeu que próximo dali um menino sorria e brincava, pulando no lago do alto de uma pedra.

Pensou em como gostaria de poder ver essa criança brincar, como seria gratificante perceber sua alegria e disposição. Lembrou porém que isso era impossível, pois já estava praticamente cego.

Então Onamuh chorou.

Nesse instante percebeu um movimento em seu pequeno barquinho. Levantou os olhos e viu o menino sentado a sua frente com um grande sorriso no rosto.

- Tio! Você pode me ajudar?

Onamuh não conseguiu nem pensar no que responder em meio aquela estranha situação e seus lábios inconscientemente balbuciaram:

- Sim, em que posso ajudá-lo?

E o menino continuou:

- Tinha um bonito medalhão que ganhei um dia de meus pais. Há muito tempo o perdi nesse mesmo lago. Todos os dias venho aqui para procurá-lo, mas nunca o consigo encontrar. Será que o senhor poderia procurar ele pra mim?

Onamuh pensou e respondeu ao menino:

- Minha criança. Já estou velho, já não enxergo muito bem, já não tenho as forças de antigamente, já não sei o que fazer para encontrar coisa alguma. Já estou quase morrendo, o que eu poderia fazer para te ajudar? Já pensou nisso?

E o menino respondeu:

- Tio, o senhor já esta fazendo, obrigado.

- Como assim? Já?

- Já sim! Agora! Sei que o senhor não possui os meios para encontrá-lo, mas pedi que o procurasse, e isso o senhor já esta fazendo.

Onamuh, ouviu o que o menino disse. Seus olhos vislumbraram então um raio de sol incidindo na água, e no fundo do lago avistou um brilho dourado.

E ele então sorriu... Pela última vez...

Um comentário:

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