Fábula - Do Latim fabula, significando "história, jogo, narrativa, conta, conto", literalmente "o que é dito". Moderno - Que pertence ao tempo presente ou a uma época relativamente recente; atual.
quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
A Mosca e a Janela
Era uma vez uma pequena mosca que se aventurava em meio a um verde jardim.
Sentiu ela então um cheiro maravilhoso vindo de uma casa logo a sua frente, incontinente adentrou a janela.
Lá encontrou um grande bolo de fubá, daqueles que só as mais enrugadas vovós sabem fazer.
Não hesitou, foi direto até aquela gostosura voluptuosa e passou a fazer sua refeição...
Enquanto estava comendo, surgiu num átimo uma ágil mão, que passou a persegui-la implacavelmente.
A mosca, desesperada, instantaneamente voou em direção à janela.
TOC! ZZZZZZZZZ TOC! ZZZZZZZ TOC!
A mosca sentiu uma intensa dor, se restabeleceu, tentou novamente e TOC!
Por mais que tentasse, não conseguia prosseguir seu voo em direção ao jardim.
Não entendeu nada, pois conseguia ver perfeitamente seu caminho e sua experiência de voo sempre fora admirada por outros insetos.
Quando examinou com mais vagar, percebeu uma superfície invisível que a separava do verde jardim afora.
Passou a voar para todos os lados, buscando uma saída daquela estranha situação.
De repente viu que a mão que a espantara do bolo, vinha pouco a pouco se aproximando dela!
Seu pequeno coração de mosca disparou! O que aconteceria em seguida, seria o seu fim?
A mão porém foi até o parapeito e, num gesto delicado, abriu a janela...
A mosca pôde então voar rumo ao verde jardim, sem jamais perceber exatamente o que ocorrera...
ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
Assim também perambulamos nós, sempre lutando e amaldiçoando nosso destino.
Não entendemos que o que recebemos da cesta da vida é exatamente a parte que nos cabe e o que merecemos.
Porém assim como a mosca, não desistimos. Pois pulsa em nós um desejo...
Sentimos que existe porém uma saída! Mas ela se esconde em nosso coração! É a virtude misteriosa...
Algo que nos esquecemos a muito tempo...
Que possamos ser nobres o suficiente para que nos possa ser aberta uma fresta na janela.
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
A Nudez da Vida nas Águas de um Riacho...
Estava uma vez um riacho a pensar sobre todo o caminho de sua vida.
Buscava lembrar das origens de sua existência, das coisas pelas quais já havia passado desde o início, até chegar a sua situação atual.
Lembrou de quando era apenas algumas gotas, que brotaram milagrosamente de uma pedra e formaram uma pequena poça.
Depois lembrou de seus primeiros passos, correndo entre as rochas, chegando a terras mais baixas. Sempre buscando algo...
A medida que o tempo passou percebeu como ganhou corpo e a distância entre ele e as plantas a sua volta diminuiu.
Lembrou dos dias de chuva, quando seu corpo ficava feroz e instável, levando uma infinidade de coisas que por azar, estavam em seu caminho.
Lembrou de seus momentos de dificuldade, quando o implacável sol exigia todas as suas forças. Lutou para continuar como um pequeno filete de água a correr, sempre buscando algo...
Nesses momentos sentiu que talvez jamais voltaria a possuir caudalosas correntes, porém ele não desistiu.
Quanto mais suas águas corriam, maiores eram as dificuldades. Quando se aproximou do litoral, sofreu com a imundice despejada pelos egoístas seres humanos, que só pensam em si mesmos.
Mesmo com todas as dificuldades e peso morto, o riacho continuou a correr, sempre buscando algo...
As vezes era ajudado pela chuva. Mas sentia que conforme o tempo passava, suas águas corriam com cada vez menos força , ficando quase paradas devido ao lixo e a seca.
Viu se então nos dias de hoje, com suas águas escuras e sujas, se arrastando em meio a imundice.
Buscando algo... Sempre buscando algo...
Até que enfim ele encontrou. Algo que todo riacho sempre buscou, hoje busca e sempre buscará.
O mar... Um vasto oceano de possibilidades.
Ele pôde se perder para sempre nele, abandonando completamente sua antiga vida.
Mas eis que nas profundezas do mais remoto oceano, nas rochas mais antigas e na escaldante pressão nuclear da terra... Algumas gotas voltam a brotar por entre as rochas...
E novamente o ciclo se iniciou...
A vida, que é a atriz principal, pede novamente sua veste à natureza.
Porém a invejosa morte, credora universal, sempre a toma de volta.
No teatro do existir a vida sai de cena, como sempre, completamente nua...
sábado, 24 de novembro de 2012
O Pequeno e Teimoso Fruto
Era uma vez uma grande e frondosa árvore.
Nela viviam uma infinidade de frutos.
Eram todos tão únicos e tão diferentes que frequentemente discordavam entre si sobre o que lhes era mais caro.
Uns gostavam mais do céu, outros mais da terra, e outros ainda eram apaixonados pelas noite de luar.
Mas, apesar das diferenças, todos eles percorriam seu ciclo natural em harmonia.
Nasciam verdinhos e pequenos, tímidos como quem começa a conhecer o mundo.
Amadureciam devagarinho, recebendo a seiva da árvore.
Seiva que carregava em si uma sentença para aqueles pequenos frutos.
Ela significava o sorvo da vida que os fazia crescer e ficar tenros.
Porém ao mesmo tempo era o veneno da morte, pois conduzia o processo de envelhecimento que os levava ao apodrecimento.
Um dia nasceu um fruto muito observador, ficou conhecido como Atsioge.
Logo que ele nasceu, passou a admirar tudo a sua volta: observava a terra lá embaixo, mirava o sol do meio dia, divertia-se com a chuva e adorava o barulho do vento quando este cortava as folhas da árvore...
Certa vez Atsioge notou ao seu lado um fruto muito enrugado e escuro...
Ficou curioso e perguntou:
- Porque você esta com este aspecto tão estranho? O que lhe aconteceu?
E o fruto, que mal conseguiu lhe responder, disse:
- Está consumado! Estou enrugado e negro como azeviche.
- Já não consigo mais me segurar no galho, logo cairei...
Atsioge ficou horrorizado:
- Mas porque isso aconteceu? O que o levou a ficar assim?
- É a seiva da árvore! Ela nos faz crescer, amadurecer e findar. É o nosso destino...
- Como assim nós? Eu também terei que chegar a esse estado? Terei de ficar assim?
- Sim jovem fruto. Esta é a vontade de nossa mãe, a árvore.
Logo após dizer isso, o fruto velho se soltou do galho e caiu em meio a um universo de folhas e galhos...
O jovem fruto ficou com tanto pavor daquela situação que tomou uma decisão:
- Negarei a seiva de minha mãe! Assim jamais enfrentarei esse destino tão cruel!
E Atsioge se fechou então em si mesmo e passou a não mais receber sua parte da seiva.
Com isso conseguiu retardar o seu amadurecimento, mas como consequência foi se tornando cada vez mais duro e opaco. Perdeu o verde vivente que outrora era sinal de sua vitalidade.
Passou a desaprovar abertamente a mãe árvore e incitava outros a fazê-lo.
Conseguiu que vários outros frutos fizessem o mesmo, imputando-lhes o medo e a indignação perante o cruel destino que aguardava a todos.
Assim a árvore, que antes era frondosa e cheia de vida, foi se tornando sombria e seca.
Seu galhos e folhas já não refletiam a glória de outrora.
Um dia, ao entardecer, Atsioge ouviu uma voz que nunca havia sido ouvida.
Era a voz da árvore, sua mãe:
- Filho meu, fruto legítimo de mim mesma, porque negas meu alimento?
E ele,envolto em sonhos sombrios, respondeu:
- Não quero desaparecer! Não quero ir em direção ao nada! Porque nos dá a vida, a alegria e depois nos tira tudo isso? Qual é o seu divertimento? O que ganhas?
E a árvore lhe respondeu:
- Minha própria vida carrega essa sentença: A mudança. Dou tudo o que sou e possuo para que você possa nascer, amadurecer e seguir o caminho... Desconheço algo que esteja fora de mim mesma. Ao mesmo tempo conheço todas as tuas aflições. Confia em mim! Lança mão do medo, preocupação e ansiedade. Assim como eu fiz uma vez e todos os nossos fizeram antes...
Atsioge vacilou um pouco...
Pensou no seus medos... Mas pensou também que já não se sentia tão bem em seu estado atual.
Percebeu que já não era mais observador.
Havia esquecido do tempo em que vivia em harmonia com todos.
Ao invés disso, passava os dias reclamando de sua condição.
Não admirava mais a terra, a chuva, o vento, o sol...
Tomou então uma decisão. Voltou a beber da seiva de sua mãe!
Ao sentir o elemento percorrendo novamente seu interior, sentiu uma imensa alegria. Voltou a possuir um verde vivente.
Podia agora encarar seu destino. O calor daquela oferenda de amor lhe dava forças para enfrentar qualquer coisa.
Continuou a beber, tornando-se maduro... Sentiu que sua casca começava a secar lentamente. Sua visão já não era mais tão acurada como antes...
Continuou e foi escurecendo até tornar-se negro. Conhecia seu destino, porém já não tinha mais medo dele.
Atsioge não sabia, mas aquelas eram as últimas forças de sua mãe. Sua última seiva.
Após algum tempo, sentiu-se fraco e sem forças para se segurar no galho.
Instantes antes de se soltar e cair, entendeu que ele era o último fruto que sua mãe poderia alimentar, pois o calor da sua seiva havia desaparecido.
Arrependeu-se de seus atos e, finalmente, consumou a entrega de seu ser ao desconhecido.
Caiu, batendo em velhos galhos e ramos secos até atingir o chão.
A seiva da mãe árvore secou, levando sua vida para sempre...
Porém, algo maravilhoso aconteceu...
O fruto que fora alimentado pelo amor da mãe árvore atingiu o solo e serviu de alimento para a semente que jazia dentro dele. E esta logo começou a brotar.
Após algum tempo, tendo a terra como alicerce, recebendo o calor do sol, as águas da chuva e a vitalidade dos ventos; a semente pode crescer e se tornar uma frondosa árvore.
Essa árvore continua a produzir muitos frutos até os dias de hoje.
Todos são diferentes, uns gostam mais do verde, outros do vermelho, amarelo... Mas nenhum é abandonado, todos recebem sua parte de seiva.
Assim todo fruto carrega uma semente em seu interior.
Essa semente é feita da seiva do amor da árvore que se dá incondicionalmente.
Por isso toda semente carrega um segredo...
E esse segredo é o que realmente importa!
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
Ensaio Sobre a Ignorância
Quem és tu que clama ter a chama da certeza?
Quem és tu que carrega o estandarte da nobreza?
És cego, surdo e por conseguinte deveria calar-te!
Não vê que teus gritos de ordem somente alimentam o caos?
Não vê que teus atos por impulso causam apenas dor a ti mesmo?
Mesmo com toda a sua censura, a roda da ignorância continua a girar.
O teu debater-se transfigura-se em combustível para seus ciclos.
Como quereis parar o movimento se vós mesmos sois parte de seu motor?
Silencia-te, emudece-te e pondere: O que estou fazendo?
Tenho mesmo a posse da verdade? Sou mesmo quem julgo ser?
Aprende a aquietar-te e guardar silêncio. Esse será o freio que tanto buscas.
Poderás então, finalmente, repousar teu coração.
Um coração em repouso produz uma mente serena.
A serenidade é mãe de toda a sabedoria...
sábado, 17 de novembro de 2012
Desbravando o mundo... (Aos meus velhos amigos)
Era uma vez três grandes exploradores Nosredna, Ovatsug e Ogaiht.
Eles estavam reunidos para medir sua coragem, que cada qual julgava possuir a maior de todas.
Propuseram então um desafio. Algo tão perigoso que jamais foi imaginado pelos maiores homens de todos os tempos.
Para provar sua coragem deveriam ultrapassar os limites de seu próprio mundo, ir até lugares que nenhum deles jamais havia estado. Deveriam partir em direção oeste e retornar pelo leste.
Nessa jornada não deveriam levar nada mais do que as roupas do corpo, além de seguirem todo o percurso completamente sós.
Decididas estas premissas, um temor percorreu o sangue de todos.
Estariam preparados para esta tão ousada jornada?
Possuíam realmente a nobreza necessária para concluir tal empreitada?
Como cada um deles não podia ficar aquém do outro, decidiram rapidamente tirar a sorte para ver quem seria o primeiro a realizar o desafio.
A sorte decidiu pelo nome de Ogaiht.
Seu sangue gelou ao vislumbrar o caminho que havia de percorrer, completamente só.
Olhou na direção do caminho que devia seguir...
Deu um passo...
Olhou para trás, nos rostos de seus algozes. Ambos torciam para que ele se acovardasse e desistisse.
Virou novamente para a frente, tomou coragem e disparou a correr...
Após algumas passadas, percebeu que não era assim tão ruim quanto parecia...
A medida que se distanciava, percebeu que seus pés não mais o obedeciam, apenas trabalhavam como cavalos em disparada.
Ao volver a direita se viu subindo uma íngreme ladeira.
Continuou correndo com a cabeça baixa, procurando não olhar para cima, para que a visão do que viria não pudesse lhe roubar suas forças prematuramente.
Dobrou novamente a direita. Sentiu seus pés começarem a fraquejar, mas continuou a correr com vigor.
Algo então aconteceu que quase o fez desistir, viu um grande cachorro no seu encalço!
Continuou a correr, porém agora empurrado pelo temor da bocarra daquela fera incontrolável.
Impelido pelos latidos e pelo medo, correu sobre um monte de areia que estava em seu caminho. Saltou sobre ele como se fosse um felino, esparramando toda a areia.
Ouviu alguns gritos de reprovação, porém deu pouca atenção a eles, e logo virou novamente a direita.
Viu-se perante uma ladeira. Agora não haviam mais obstáculos... Mas...
Au! Au! Sentiu o bafo quente do cachorro em suas pernas!
Nesse instante, não se sabe se por sorte ou por azar, uma havaiana se soltou de seu pé esquerdo, saciando enfim a ânsia de destruição canina.
Ogaiht não se abateu. Continuou correndo. Olhou de relance para traz e viu uma mistura de pedaços de borracha azul e branca com baba de cachorro. Era somente o que restou de seu velho calçado.
Para acabar com o desconforto, ou apenas para fazer outra oferenda para a fera, acabou abandonando também sua havaiana direita.
Ao virar novamente a esquina ficou aliviado em ver o rosto de seus amigos, que o esperavam sentados na calçada sorrindo. O quarteirão estava vencido!
Completamente descalço, sujo de areia, porém com a honra intacta, o garoto conseguiu cumprir o desafio!
Nesse momento a mãe de Nosredna, que antes estava costurarando, os chamou para tomar café da tarde.
Ogaiht então pensou, como explicaria o sumiço do seu chinelo para sua mãe quando ela voltasse do trabalho?
- Não se preocupe, disse Ovatsug. Pego um chinelo novo na loja da minha mãe!
- Obrigado! Mas... o que faremos mais tarde?
- Que tal ir na casa do Rednassela pegar goiaba branca ou do Socram jogar videogame? disse Nosredna.
Pode ser, mas acho que hoje não dá mais, já esta ficando tarde para nós.
Amanhã poderemos brincar mais...
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
A Lenda das Sementes do Pântano
Eram tempos de guerra...
A atmosfera fria e sombria refletia continuamente nos rostos daqueles pobres diabos que, enfileirados para receber sua parte de ração, escolheram apostar sua vida por causa tão vil...
Que causa era essa? Servir aos caprichos do rei Edravoc.
Edravoc era o governante de um paupérrimo reino que ficava nas planícies ao oeste. Havia herdado suas terras através de uma linhagem de soberanos que nunca haviam se preocupado com o amanhã...
Seus ancestrais sempre exploravam ao máximo os recursos de seu reino e procuravam viver da forma mais espalhafatosa possível. Acreditavam que a "real nobreza" provinha da ostentação de suas riquezas perante seus súditos.
O início foi com o seu hecatontavô que utilizou a mão de obra e recursos do reino para construir um imenso castelo que pudesse servir a seus propósitos burlescos. Mas como disse, foi só o início. Cada filho quis ser tão grande como seu pai e procuravam construir um castelo mais grandioso e viver com ainda mais pompa que seu antecessor.
Não é de se admirar que após várias gerações de usurpadores, o reino caísse em desgraça total, e tenha se tornado uma terra quase deserta, cercada de construções abandonadas e sombrias.
Como cada novo rei não queria gastar seus recursos para manter o velho castelo de seu ancestral, apenas faziam a pilhagem do que julgavam útil nos velhos castelos e inauguravam o seu próprio às custas do espólio de seus antecessores.
Quem sempre perdia era o povo. Geração após geração procuravam maneiras de fugir daquela exploração contínua. Alguns juntavam o pouco que ainda lhes restava e fugiam na calada da noite.
Outros reprovavam abertamente os impostos cobrados e trabalhos forçados. Mas como acabavam desaparecendo sem deixar rastros, era cada vez mais raro alguém disposto a questionar as políticas do reino.
Outros reprovavam abertamente os impostos cobrados e trabalhos forçados. Mas como acabavam desaparecendo sem deixar rastros, era cada vez mais raro alguém disposto a questionar as políticas do reino.
E assim a linhagem de Edravoc, a cada geração, foi acabando com os recursos naturais de seu reino, tornando-o pobre e desolado.
Foi então que o rei Edravoc teve uma ideia. Se nossa terra já não nos serve, iremos tomar a de outros!
Começou então a recrutar os poucos habitantes que ainda restavam para formar um exército. Após algum tempo conseguiu o apoio alguns poucos parvos, prometendo-lhes uma vida de sangue, ouro e outras promessas tolas.
Certa vez um velho habitante do reino furou o bloqueio dos lacaios e conseguiu ter com Edravoc em seu castelo. O rei teve tanto medo daquele velho que gritou para que seus guardas o acudissem.
O velho porém sorriu e disse com uma voz branda:
- Sua majestade! Por favor reconsidere a decisão de guerrear! Somos tão poucos. Nossos jovens estão tomados por pérfidas ilusões. Tenho a solução para nossos problemas sem que haja a necessidade de haver derramamento de sangue.
Edravoc olhou de modo esguio para o velho pois nesse instante seus guardas o agarraram grosseiramente. Estavam a chacoalhá-lo e alguns já até haviam desembainhado suas espadas.
Com a situação sob controle, Edravoc então lhe perguntou:
- Fale velho! Qual é sua sugestão? Se ela valer a pena sua vida será poupada!
O velho então começou a falar:
- Nossa terra está tão doente que nem mais lembramos como é viver bem. Por isso sua majestade deseja desbravar o mundo buscando novas terras para serem usurpadas. Porém o que acontecerá a elas quando seus recursos também se esgotarem? Iremos atrás de outras? E quando o mundo todo for vosso? Haverá algures terras férteis para conquistar quando a pompa e iniquidade se instalarem por todo o mundo?
Todos olharam espantados para o velho. E ele prosseguiu:
- Devemos é ter a decência de recuperar nosso próprio lar. Foi aqui que nossos ancestrais cresceram. Foi aqui que dei meus primeiros passos. Vossa majestade também! É mais fácil esconder nossas faltas e tomar dos outros o que julgamos necessário, porém isso apenas se torna em dor e desespero, poque falta algo importante: nosso merecimento.
- Merecer algo é possuir o sentimento legítimo de ter cumprido seu papel. Isso traz tranquilidade e paz de espírito.
O rei então olhou pela janela, e viu... uma vasta terra cinza, tomada por um odor desagradável.
- Velho. Como poderíamos fazer isso?
Os guardas então o soltaram e ele pegou um saquinho que levava amarrado a sua cintura e mostrou ao rei.
- O que é isso? Perguntou o rei.
-São sementes. Recebi-as de meu pai, que as recebeu do pai dele e assim por diante... Devemos plantá-las e assim devolver a beleza e a vida ao nosso reino.
O rei as olhou, olhou novamente pela janela... E pensou em todo o trabalho que teria para recuperar sua terra...
Pensou também que haviam muitas outras terras férteis onde poderia conseguir facilmente alcançar seus objetivos. Virou em direção ao ancião e lhe devolveu rudemente as sementes.
- Guardas! Levem-no para a masmorra! Preparem o exército! Atacaremos ao cair da noite! Preparem-se!
O pobre velho então perdeu o sorriso que havia habitado seu rosto. Respirou fundo e fechou seus olhos.
Esta foi a batalha mais curta da história. O "exército" de Edravoc foi completamente massacrado quando invadiu as terras do Rei Megaroc.
Reza a lenda de que quando os guardas de Edravoc revistaram o velho para levá-lo para a masmorra, não puderam encontrar as tais sementes.
Até hoje existem lendas sobre o paradeiro delas.
Uns dizem que elas desapareceram para sempre, assim como a linhagem de Edravoc.
Outros acreditam que elas continuam ocultas, no profundo coração daquela terra deserta que, um dia, voltará a florescer.
Foi então que o rei Edravoc teve uma ideia. Se nossa terra já não nos serve, iremos tomar a de outros!
Começou então a recrutar os poucos habitantes que ainda restavam para formar um exército. Após algum tempo conseguiu o apoio alguns poucos parvos, prometendo-lhes uma vida de sangue, ouro e outras promessas tolas.
Certa vez um velho habitante do reino furou o bloqueio dos lacaios e conseguiu ter com Edravoc em seu castelo. O rei teve tanto medo daquele velho que gritou para que seus guardas o acudissem.
O velho porém sorriu e disse com uma voz branda:
- Sua majestade! Por favor reconsidere a decisão de guerrear! Somos tão poucos. Nossos jovens estão tomados por pérfidas ilusões. Tenho a solução para nossos problemas sem que haja a necessidade de haver derramamento de sangue.
Edravoc olhou de modo esguio para o velho pois nesse instante seus guardas o agarraram grosseiramente. Estavam a chacoalhá-lo e alguns já até haviam desembainhado suas espadas.
Com a situação sob controle, Edravoc então lhe perguntou:
- Fale velho! Qual é sua sugestão? Se ela valer a pena sua vida será poupada!
O velho então começou a falar:
- Nossa terra está tão doente que nem mais lembramos como é viver bem. Por isso sua majestade deseja desbravar o mundo buscando novas terras para serem usurpadas. Porém o que acontecerá a elas quando seus recursos também se esgotarem? Iremos atrás de outras? E quando o mundo todo for vosso? Haverá algures terras férteis para conquistar quando a pompa e iniquidade se instalarem por todo o mundo?
Todos olharam espantados para o velho. E ele prosseguiu:
- Devemos é ter a decência de recuperar nosso próprio lar. Foi aqui que nossos ancestrais cresceram. Foi aqui que dei meus primeiros passos. Vossa majestade também! É mais fácil esconder nossas faltas e tomar dos outros o que julgamos necessário, porém isso apenas se torna em dor e desespero, poque falta algo importante: nosso merecimento.
- Merecer algo é possuir o sentimento legítimo de ter cumprido seu papel. Isso traz tranquilidade e paz de espírito.
O rei então olhou pela janela, e viu... uma vasta terra cinza, tomada por um odor desagradável.
- Velho. Como poderíamos fazer isso?
Os guardas então o soltaram e ele pegou um saquinho que levava amarrado a sua cintura e mostrou ao rei.
- O que é isso? Perguntou o rei.
-São sementes. Recebi-as de meu pai, que as recebeu do pai dele e assim por diante... Devemos plantá-las e assim devolver a beleza e a vida ao nosso reino.
O rei as olhou, olhou novamente pela janela... E pensou em todo o trabalho que teria para recuperar sua terra...
Pensou também que haviam muitas outras terras férteis onde poderia conseguir facilmente alcançar seus objetivos. Virou em direção ao ancião e lhe devolveu rudemente as sementes.
- Guardas! Levem-no para a masmorra! Preparem o exército! Atacaremos ao cair da noite! Preparem-se!
O pobre velho então perdeu o sorriso que havia habitado seu rosto. Respirou fundo e fechou seus olhos.
Esta foi a batalha mais curta da história. O "exército" de Edravoc foi completamente massacrado quando invadiu as terras do Rei Megaroc.
Reza a lenda de que quando os guardas de Edravoc revistaram o velho para levá-lo para a masmorra, não puderam encontrar as tais sementes.
Até hoje existem lendas sobre o paradeiro delas.
Uns dizem que elas desapareceram para sempre, assim como a linhagem de Edravoc.
Outros acreditam que elas continuam ocultas, no profundo coração daquela terra deserta que, um dia, voltará a florescer.
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
Um empréstimo a vencer...
O maior erro é nunca querer errar.
O maior medo é o de se deixar levar.
O que nos obriga a estar despertos todo o tempo?
É porque podemos perder nosso lugar ao sol a qualquer instante!
Sendo assim, nada pode passar desapercebido pelos nossos olhos!
E mesmo com todo o nosso esforço, as coisas passam desapercebidas...
Alias, a vida passa... desapercebida... bem diante de nossos olhos...
Julgas ter controle sobre sua vida?
Aliás, julgas que a vida é sua?
Estás redondamente enganado! Porque "sua" vida não é sua.
Não se pode ter algo que não lhe foi dado.
Na verdade, a vida nos foi emprestada.
Um empréstimo com prazo de validade definido!
Podemos tentar até esticar um pouco o prazo de pagamento...
Mas, cedo ou tarde, chega a hora em que devemos pagar esse empréstimo...
E então vem a tristeza, a indignação e as súplicas.
Agimos assim porque acreditávamos que ela, a vida, era nossa!
Quem nos contou tamanha mentira?
E o pior! Porque acreditamos nela?
Porque é mais fácil!
Estamos errados? Não! Apenas somos ignorantes.
Porque tudo isso? Bastava simplesmente devolver o empréstimo ao seu dono.
Existem caminhos ainda mais fáceis que este?
Porque entregar é tão difícil para nós?
Basicamente... Apenas porque existimos.
É amigos... Espero que todos estejamos preparados para o dia de quitar nossas "dívidas".
terça-feira, 9 de outubro de 2012
Orutuf e a Bússola de Ouro
Era noite, uma escura noite sem lua e sem estrelas, como só as densas nuvens negras conseguem criar.
Orutuf estava completamente só naquela velha embarcação que já havia, em tempos gloriosos, percorrido os sete mares.
Uma tempestade não lhe deixava esquecer quão precioso era ainda poder respirar, mesmo sendo atingido tão dolorosamente pelo frio granizo que lhe golpeava a face com uma insistência sádica e angustiante.
Encontrava-se amarrado ao velho mastro de carvalho, e de tempos a tempos sua cabeça batia fortemente contra a madeira, resultado da colisão das gigantescas ondas que rebentavam de ambos os lados do casco de seu barco.
Tentava insistentemente denodar suas mãos, porém sem sucesso.
Se ao menos pudesse alcançar algo para se libertar daquelas cordas...
Orutuf havia sido vítima do lendário pirata Omsimissep que lhe saqueara a carga e lhe deixara a deriva, amargando um destino completamente desconhecido.
Porém o que mais preocupava Orutuf não eram suas mercadorias e sim o perigo que corria a princesa Acnarepse...
Há algum tempo o rei Omsimito havia confiado ao jovem Orutuf a tarefa de levar sua filha de volta a sua antiga terra natal, que ficava ao leste.
De fato Orutuf era um órfão que havia sido criado pela família real. Em virtude disso, ele tinha grande respeito pelo rei e por todos na corte e também era respeitado por todos no reino.
Foi criado como um homem livre e, desde cedo, tomou gosto pela navegação e comércio, o que muito agradou ao rei.
Apesar de Orutuf ser um grande explorador, ele nunca havia navegado para o leste, e tinha dúvidas se conseguiria atingir seu objetivo.
Foi ter com o rei, porém este lhe tranquilizou dizendo que a princesa lhe seria uma excelente guia e, se ele confiasse nela, ambos atingiriam seu destino.
No dia da partida Orutuf recebeu a princesa em seu navio, mas estava desconfiado sobre as aptidões da princesa. Então lhe perguntou:
- Poderia me explicar como vossa alteza nos guiará em tão perigosa viagem?
- Claro Orutuf, veja só!
Foi então que ela lhe mostrou uma grande bússola de ouro.
- Essa bússola foi presenteada a meu pai pelo lendário artesão Serolav. Não se trata de um instrumento qualquer. Ela foi feita com as ferramentas especiais que eram do pai dele.
- Veja, tem um nome gravado nela: Edadrev. Meu pai disse que era o nome de uma espada, minha mãe disse que era o nome de uma princesa... Bom... para mim é o nome da bússola! disse Acnarepse sorrindo.
- De qualquer forma fique tranquilo Orutuf, com certeza chegaremos até minha terra natal.
Ele se sentiu tranquilizado pelas palavras da princesa e então seguiram viagem.
Aconteceu que, após navegarem algum tempo, uma gigantesca tempestade apareceu no horizonte.
- Princesa, precisamos mudar o rumo, uma grande tempestade se aproxima a nossa frente.
- Orutuf, a bússola indica que devemos atravessá-la diretamente, e nada de mal nos acontecerá. Fique tranquilo.
- Sinto muito, mas não posso colocar sua majestade em risco. vou desviar um pouco o caminho...
Foi então que Orutuf desviou-se do caminho indicado pela bússola e caiu nas águas dominadas pelo pirata Omsimissep que saqueou seu navio e sequestrou a princesa.
Como Orutuf não sabia lutar, acabou caindo facilmente nas mãos do pirata...
Ele estava arrependido de não ter ouvido os conselhos da princesa. Mas o que poderia fazer agora?
Aconteceu porém que pelo bater das ondas no casco, um objeto foi arrastado até perto dele.
Era a bússola de ouro!
Orutuf observou que sua agulha estava diretamente apontada para frente, direção que por acaso, as ondas o estavam levando.
Essa foi a última imagem de que Orutuf se lembrou ao acordar, depois de algum tempo. Estava em uma praia e várias pessoas o observavam com olhos curiosos.
No meio deles estava um homem forte com uma armadura reluzente. Ele segurava a bússola de ouro na mão e lhe perguntou:
- Quem é você? Onde esta a princesa Acnarepse? O que aconteceu?
Orutuf contou tudo o que havia acontecido, como havia resolvido desviar o caminho e, por conseguinte, como a princesa havia caído nas mãos do pirata...
Chorou amargamente ao final, o que despertou a compaixão de todos.
- Escute Orutuf, me chamo Etneserp. Vamos até a aldeia, lá você poderá contar o que aconteceu para o velho Odassap e ele poderá nos auxiliar.
Chegaram até a aldeia e foram ter com o velho.
Orutuf contou novamente o que se passara e o velho respondeu:
- Sujeita a erros, assim é a natureza humana. Já vi muitos verões, e a vida estava quente a acalentadora. Já vi muitos invernos, e a vida estava fria e desalentadora.
- Quer resgatar a princesa? Deseja colocar toda sua bravura nessa empreitada? Terá de passar por um rigoroso treinamento para se tornar um cavaleiro!
E Orutuf respondeu resolutamente:
- Sim! De todo o meu coração!
E o velho então mandou chamar Etneserp:
- Você, que detém os segredos dos cavaleiros e a arte das batalhas, ensine-os ao jovem Orutuf, de forma que ele possa agora plantar os frutos que o levarão à vitória em batalha.
E continuou o velho:
- Terás de aprender com o velho Odassap a ter confiança, mesmo em meio a mais negra tempestade, pois sempre após a noite, o dia com certeza virá. E o que foi uma vez, de novo será!
- Terás também de aprender com Etneserp a realizar as justas ações, para que não vaciles mais no campo de batalha. Lembra-te que teus esforços hoje serão o adubo que fará crescer os frutos de tua árvore amanhã!
- Siga dessa vez Edadrev, a lendária bússola de Serolav! E lembre-se: Essa será sua última chance!
Orutuf levantou os olhos e, pela primeira vez, eles irradiavam a coragem dos grandes e antigos guerreiros.
Nesse mesmo instante, numa profunda prisão, a princesa viu um dourado raio de sol entrar pela fresta de uma janela...
Ela levantou os olhos...
E sorriu...
sábado, 6 de outubro de 2012
Um Chamado à Lucidez
Ergam-se ó hordas que rastejam!
Aninhem-se ó paixões vis que vós ocultais!
É tempo de se mostrar, não se ocultem mais da luz!
É tempo de enaltecer a verdade, a tão velha e esquecida verdade!
Quem és tu realmente?
Qual é o metal que reveste a couraça da iniquidade sob a qual viveis?
Julga-te enobrecido para medir o peso do coração dos homens?
Engana-te! Estais embriagados pela sordidez que guia vossa vida!
Como podemos conhecer verdadeiramente os homens?
Tu analisas as pessoas e, como uma aranha, vai tecendo suavemente a teia do julgamento.
Porém esquece-te que tua análise é sempre edificada sobre teus pré-conceitos!
Se tudo ao seu redor muda o tempo todo, porque o teu ato de mensurar há de ser imutável?
Por isso todo julgamento sempre é parcial e falho!
Que seja assim meu amigo, evite sempre o julgamento, pois o que julga de antemão está condenado ao erro.
E aquele que insiste em errar, conhecendo a verdade, é verdadeiramente estúpido.
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
A Grande e Única Batalha
A luz do sol, um pouco ofuscada pela lua iluminava o campo de batalha.
Plenck, Fuuuizz, zimmm!
Assim se ouvia por todos os lados!
Por pouco Osoutriv não tem a orelha decepada pelas garras da criatura!
Ele então se esquiva e com um golpe certeiro atinge o coração de seu agressor!
Esse instante seria lembrado por várias e várias gerações...
Porém, voltemos ao início de nossa história!
Era uma vez um vilarejo dominado por uma vil força que se materializava apenas raramente.
O povo desse vilarejo já havia tentado várias maneiras diferentes para se livrar desta terrível criatura, porém nada do que tentavam a afetava.
Já haviam usado fogo, água, terra e ar, porém a vil força permanecia invencível.
E o povo continuava escravizado, geração após geração, trabalhando em minas de ouro.
Este ouro servia de alimento para a criatura.
Os que se recusavam a trabalhar eram levados até seu covil e lá recebiam firmes golpes de vergasta, até o sangue lhes brotar.
As pessoas que sofriam essa tortura nunca mais eram as mesmas. Perdiam a alegria de viver e perambulavam pelo vilarejo.
Os mais velhos eram isolados em uma prisão onde mal recebiam comida e água. Eram deixados lá para morrer de velhice ou loucura.
Assim, sem exceção, todos os habitantes acabaram se tornando escravos da criatura ou mortos.
Certa vez nasceu uma criança diferente.
No momento de seu nascimento, as pessoas que ali estavam perceberam que a criança estava envolta com uma estranha áurea azul que parecia um cristal das minas do longínquo oriente.
Então a criança foi cuidadosamente escondida de olhos curiosos, temendo que tal fato chegasse aos ouvidos da criatura.
Com o passar do tempo a coloração foi desaparecendo, até que aos 3 anos de idade, Osoutriv era uma criança normal. Exceto pelo fato de ter nascido cego. Passou então a levar uma vida normal como as outras crianças do vilarejo.
Os anos passavam rápido e a rotina de trabalho era constante, deixando o fardo dos pais de Osoutriv ainda maior.
Porém temiam o pior! Estava chegando a idade em que Osoutriv seria obrigado a trabalhar, e caso não trabalhasse, poderia lhe acontecer o pior.
A vil força então visitou a casa dos pais de Osoutriv e viu aquele menino cego que mal conseguia caminhar sozinho.
A criatura não viu utilidade para aquela criança e disse aos seus pais que iria matá-la.
Seus pais imploraram por sua vida e disseram que trabalhariam dobrado para que ele fosse poupado.
Isso agradou a criatura que determinou que ganharia 4 escravos, mantendo apenas 3 bocas. Pensou também que após algum tempo eles não iriam aguentar a jornada dobrada e acabariam quebrando o acordo. Nessa ocasião, os 3 seriam mortos sem perdão...
Porém a força dos pais de Osoutriv era grande, e trabalharam dia após dia para salvar sua vida. Seu pai de dia e sua mãe a noite,
Os anos passaram e após 18 anos Osoutriv já era um adulto.
Ele se sentia mal por não poder trabalhar com os outros e passava os dias ao redor da prisão dos velhos, lhes dando água, o pouco de comida que conseguia e tentando aliviar seu sofrimento.
Sentia que deveria existir algo além de toda aquela dor e sofrimento.
Ansiava por respirar. Por ser livre e poder libertar todo o seu povo.
Certa vez estava junto a prisão dos idosos e ouviu um velho cantarolar:
"Quando o sol e a lua se unirem, o que esta oculto ficará revelado.
Quando o milagre acontecer, o mal poderá ser eliminado.
Então erga sua mão nobre guerreiro!
E acerte-o no coração com um golpe certeiro!"
Aquelas palavras ressoaram nos ouvidos de Osoutriv e este as guardou fundo em sua memória.
Na manhã seguinte sua mãe não levantou da cama, como fazia todos os dias. Estava doente, muito doente.
Seu pai sabia o que aquilo significava. Levou delicadamente sua mulher até uma carroça e disse para seu filho:
- Vamos fugir antes que a criatura mate a nós três.
- Mas pai, dizem que é impossível fugir deste vilarejo, ninguém nunca conseguiu.
- Mesmo assim devemos tentar. Já sei o destino que nos aguarda se ficarmos.
E assim os três entraram na carroça e se puseram a correr.
De repente um clarão tomou conta da rua. Era a vil força que já havia notado a ausência deles no trabalho.
- Estou aqui como prometi, vim tomar o que é meu! Sem trabalho não existe ouro, e sem ouro, suas vidas não tem valor!
Nesses instante seu pai abraçou fortemente sua mãe em desespero.
Cego, claudicante e tateando na escuridão, Osoutriv encontrou o que pareceu ser um pequeno graveto em meio a palha na carruagem.
Ergueu o graveto em direção indefinida e bradou:
- Afaste-se vil criatura! Vou defender meus pais com a minha vida! Durante anos eles trabalharam incessantemente para lhe alimentar! Eles quase nunca se viam. E tudo isso para me proteger!
A criatura riu e debochou de Osoutriv:
- O que vai fazer com este graveto garoto cego? É agora que tomarei a vida dos três!
Nesse instante porém, algo que a criatura não contava aconteceu.
Osoutriv começou a brilhar cristalinamente!
Uma áurea azul tomou o seu corpo e ele passou a enxergar!
O clarão daquela luz fez com que a criatura perdesse a visão e aquela vil criatura, em desespero, desferiu um golpe com suas garras em direção a cabeça de Osoutriv.
Este por sua vez se esquiva, e com um golpe certeiro atinge o coração da criatura com aquele graveto.
E foi o suficiente. A criatura foi abatida.
O amor de seus pais unidos revelou novamente sua verdadeira força, que sempre esteve guardada em seu coração.
Então o milagre de sua luz cristalina ofuscou as trevas.
Osoutriv foi nobre e enfrentou seu destino, mesmo com suas limitações.
Ele espetou o coração da criatura, que jamais havia sido tocado.
Foi assim que a simplicidade venceu a batalha.
Quem espera ter armas potentes, ou espera situações especiais para enfrentar a grande batalha, jamais conseguiria ter vencido a vil força.
Força essa que habita cada um de nós.
Na verdade Osoutriv teve tudo o que é preciso para enfrentar a batalha que libertou todo o seu povo e a si mesmo.
Ele teve coragem.
segunda-feira, 20 de agosto de 2012
Acnadum: O Pequeno Viajante
Quem acha que em um jardim existem apenas plantas e insetos, esta redondamente enganado.
Se você se esforçar, verá as várias esferas de vida que conectam-se entre si.
Cada ser que vive ali encerra uma possibilidade.
Acnadum conhecia esse ciclo de vida e morte e também estava ligado a ele.
Sentia profunda tristeza quando via alguém destruindo o pouco da natureza que restava no mundo.
Eram tempos difíceis. Antigamente ele vivia perambulando de um jardim para outro, conhecendo amigos e buscando novas aventuras.
Porém hoje existiam pouquíssimos jardins para se explorar, pois as pessoas preferem ter calçadas cinzas e tristes.
Preferem coisas concretas que devem estar sujeitas à sua vontade.
Preferem tentar manter tudo sob o seu controle, inclusive o que é incontrolável.
"Um jardim não pode ser controlado.
Um dia uma planta cresce, no outro ela morre.
Um dia um animal aparece, no outro se dissolve.
Não há vassoura que consiga varrer, todas as folhas ao amanhecer.
Nada fica como está. Uma porta para o novo assim sempre se abrirá..."
Assim cantarolava Acnadum... Vocês já devem ter percebido! Acnadum era um gnomo de jardim.
Quase não havia jardins onde ele pudesse fazer sua morada.
Mas porque o evitavam tanto?
"Será pelos frutos amargos que um jardim pode trazer?
Será pelo medo do oculto que se revela ao anoitecer?
Será pela sujeira e poeira que trazemos em nosso ser?
Não! Era o velho hábito, que nos ensinou a querer ver para crer!"
Felizmente, alguns poucos insistiam na aventura. Acreditavam em si próprios e ousavam lançar-se rumo ao desconhecido, aceitando ambos os frutos. Os bons e os maus.
Eles sabiam que os frutos são apenas o reflexo do que plantaram, ou das horas de descuido em que as ervas daninhas cresceram.
Eles aceitavam Acnadum em seus jardins e ele se instalava carinhosamente, cuidando dos segredos mais profundos do ser humano.
E o jardim florescia, as vezes oferecendo espinhos...
Porém também, às vezes... Lindos botões de rosa.
sábado, 14 de julho de 2012
A Pressa dos Abutres
- Estamos com pressa! Vamos!
- Você não tem tempo para pensar, nem se esconder! Responda AGORA! Não há tempo!
E ele estava ali, cercado de alguns rostos fúnebres e muitos abutres ávidos pela sua tenra carne.
Mas ele não era um rapaz comum, Rarednop conseguia enxergar a real intenção dos apelos daquelas aves necrófagas.
- Não vamos deixar que ele pense, vamos fazê-lo errar! Não o deixe avaliar! Assim ele estará perdido!
Mas após ser atacado tantas vezes no passado, ele agora sabia como contornar aqueles apelos insistentes.
- OK! Lhes darei a resposta que querem, mas antes, preciso de refletir um pouco...
- Que pergunta é tão urgente que não possa esperar 5 minutos? Logo vos trarei a resposta.
Rarednop entendeu que só se faz pressão em alguém para testá-lo ou para fazê-lo errar intencionalmente.
Infelizmente não podia ser espontâneo ao lidar com certas pessoas, não devia mais estar desprotegido.
Mas... E os abutres? Ele entendeu que eles também são importantes.
Quem se encarregaria de tudo de podre que existe na terra se não fossem eles?
Ele precisou apenas aprender a lhes dar o que queriam, e eles iriam embora satisfeitos.
Rarednop aprendeu então a lhes oferecer o que eles realmente queriam: O que havia de mais vil em seu ser.
Então ocorreram duas coisas:
- Os abutres foram embora satisfeitos.
- Rarednop estava deixando que devorassem sua parte vil e, ao mesmo tempo, estava sendo purificado.
Foi então que um dia Rarednop passou completamente desapercebido entre os abutres.
Sabem porque? Pois suas narinas eram treinadas para procurar apenas a mesquinharia.
Porém Rarednop não possuía mais nada que lhes atraiam.
terça-feira, 19 de junho de 2012
As ferramentas de Serolav
- Filho, existe uma grande luta que é travada a todo o momento sobre a terra.
- Uma luta que é demasiado sutil para ser percebida, porém é claramente apresentada àqueles que possuem nobreza de coração!
- Essa é a luta pelo que é certo! Você deve se esforçar por conhecer esta luta.
Desde muito cedo seu pai lhe mostrou que nem sempre o caminho mais fácil era o correto.
As escolhas que ele faria na vida poderiam levar seu caráter de um extremo a outro:
- A lei da inércia também atua em nós. Ela cria padrões de comportamento que tendem a se repetir.
- Se temos bons comportamentos, a tendência é que eles se repitam. Porém o contrário também acontece...
Assim o pai de Serolav lhe ensinava.
Um dia Serolav estava voltando para sua casa carregando uma cesta cheia de pesadas ferramentas de trabalho que seu pai lhe havia confiado.
No caminho, ele encontrou vários amigos que estavam ocupados em quebrar castanhas com grandes pedras.
Sentiu uma grande vontade de comê-las!
Ele percebeu que eles não conseguiam quebrá-las com exatidão pois o tamanho das pedras era tão grande que acabavam esmagando tudo e não conseguiam separa a dura casca da deliciosa castanha.
Quando tentavam com uma pedra pequena demais, nada acontecia, a dura casca continuava intacta.
Então ouviu um dos amigos dizer:
- Se tivéssemos alguma ferramenta com a qual pudéssemos abrir essas castanhas...
Então logo ele lembrou que carregava as ferramentas de seu pai. Procurou entre elas e viu uma machadinha que serviria perfeitamente para abrir as castanhas.
A machadinha era ricamente polida e trabalhada, tinha estranhas inscrições e símbolos gravados
Porém pensou. Essas ferramentas não são minhas, são de meu pai... Será que ele gostaria que eu as usasse dessa maneira?
Porém sentiu novamente vontade de comer castanhas...
Nessa altura os outros meninos já haviam visto a bela machadinha que Serolav carregava e ficaram ao seu redor gritando:
- Vamos Serolav, use-a para quebrar as castanhas! Ninguém vai ficar sabendo! Assim todos poderemos comer!
Quando Serolav levantou seu braço para dar um primeiro golpe... Sentiu uma estranha sensação.
Sentiu que o que estava fazendo era errado. Não devia usar as ferramentas que seu pai guardava com tanto esmero daquela maneira.
E sem pensar novamente, guardou a machadinha.
Os garotos ficaram tristes, mas logo em seguida Serolav avistou uma pedra ao longe que não era nem tão grande, nem tão pequena como as outras.
Correu até ela e a deu aos meninos:
- Agora vocês conseguirão quebrar as castanhas, pois essa pedra é do tamanho certo, nem tão grande, nem tão pequena.
Após conseguirem abrir algumas castanhas com sucesso ele se sentiu satisfeito e continuou seu caminho até sua casa.
A noite seu pai lhe chamou:
- Serolav, estou orgulhoso de você! Você conseguiu trazer as ferramentas intactas até nossa casa. Fique sabendo que essas ferramentas são apenas usadas em ocasiões muito especiais.
- Diz a lenda que essa machadinha e todas as outras ferramentas foram feitas a partir dos estilhaços de uma antiga espada chamada Edadrev. Essa mesma espada havia protegido uma princesa com o mesmo nome.
Serolav não sabia disso, mas na hora certa sua consciência lhe avisou do erro que estava cometendo, a tempo de não macular as ferramentas que seu pai lhe confiara.
Ele provou assim a nobreza de sua consciência e pôde ser um porto seguro para a justiça durante toda a sua vida.
terça-feira, 5 de junho de 2012
Aicnet Sisrep e as Garras do Tempo
Era uma tarde de primavera ensolarada, la estava Aicnet Sisrep, deitado na relva verde de um belo prado.
Apoiava sua cabeça numa grande pedra e buscava distinguir formas reconhecíveis nas nuvens que pairavam na imensidão azul.
Acreditou ver um coelho! Que após alguns segundos havia se transformado em um duende, e logo após um navio com as velas içadas!
Naquele dia em especial ele estava muito alegre, pois fora dispensado das aulas e pôde sair mais cedo para sua casa, porém como a tarde estava muito bonita, resolveu descansar um pouquinho.
Em meio a seus devaneios acabou adormecendo...
Então ele sonhou. Sonhou que podia estar em meio aquelas nuvens tão fofas e claras. Sonhou que podia caminhar sobre elas e moldá-las conforme sua vontade.
Construiu um grande boneco de neve com as nuvens, depois o desmanchou e construiu uma canoa.
Pulou para dentro dela e passou a navegar com sua canoa de nuvens no claro céu azul. Viu então uma bela fonte de mármore branco no meio das nuvens. Resolveu ir até lá para examiná-la melhor.
De repente acordou!
E viu que o céu não estava mais azul e claro, mas era o véu da noite que paulatinamente havia cobrido quase todo o céu, restando apenas uma faixa vermelha do dia no horizonte.
O que aconteceu? Parecia que haviam passado apenas alguns instantes desde que ele estava moldando as nuvens no céu claro, mas agora já estava quase noite.
Ele levantou e correu para sua casa tentando não preocupar sua mãe e pensando no que haveria para jantar...
La estava Aicnet Sisrep, o trabalho hoje havia sido duro! Muitos problemas a serem resolvidos e muitas cobranças de todos os lados.
Ele só pensava em resolver logo todos os seus problemas.
De repente ouviu um assobio alto e agudo. Era o sinal de saída do seu local de trabalho.
Olhou no relógio e viu que eram apenas duas da tarde, o que teria acontecido?
Logo em seguida recebeu um aviso informando que devido a falhas no sinal de internet da empresa, todos estavam sendo dispensados.
Abriu um imenso sorriso e passou a arrumar suas coisas. Saiu da empresa e vislumbrou um belo dia azul de verão!
Após caminhar um pouco por um grande terreno, viu uma pedra na qual se sentou para descansar um pouco.
Lembrou então que anos atrás havia estado ali, olhando para as nuvens e sentiu saudade dos seus tempos de criança.
Deitou a cabeça na pedra e começou a observar as nuvens, viu um macaco, um carro e as feições de uma bela mulher...
Acabou adormecendo...
La estava ele, jovem, e dentro de uma canoa de nuvens mirando a fonte de mármore branco.
Continuou então seu caminho até a fonte e tocou-a, sentindo o frio do mármore.
A água que brotava era límpida e brilhava como prata à luz do sol. Quando tentou tocar água, acordou.
Olhou e viu a sua volta o breu da noite. Havia dormido muito e sua esposa deveria estar preocupada.
Levantou e correu até sua casa, pensando em que desculpa iria dar para seu atraso...
Todos conheciam Aicnet Sisrep. Ele já havia vivido e visto muito.
Passava grande parte dos seus dias sentado, pois suas pernas já não tinham mais a força de antigamente.
Como tinha dificuldades de se locomover, sua solidão era quebrada as vezes com algumas visitas, porém a visita nunca era longa, já que todos sempre estavam muito ocupados.
Um dia resolver, mesmo com uma intensa dor em seus joelhos, sair para dar uma volta.
Pegou sua bengala de carvalho e seguiu a direção que seus pés lhe indicaram.
Chegou até uma estreita estrada entre imponentes mansões.
No canto de uma cerca, por um capricho do destino, estava uma pedra.
E ele reconheceu aquela pedra!
Dirigiu-se até ela e cambaleou de encontro ao chão.
Conseguiu se alinhar e repousar suavemente seu velho corpo junto a pedra, buscando uma posição que lhe desse uma visão ampla do céu.
Suspirou e adormeceu, vendo as brancas nuvens de outono...
Juventude e alegria brotaram de seu sono. Viu-se correndo novamente entre as nuvens!
E a fonte de mármore estava la, jorrando ininterruptamente.
Aicnet Sisrep bebeu de suas águas e brincou com várias nuvens, fazendo e desfazendo imagens diversas.
Tomado de grande alegria, ele correu e mergulhou nas águas cristalinas...
E continuou brincando e brincando...
Dessa vez ele não acordou.
quinta-feira, 24 de maio de 2012
O Poço
Estamos em um poço em uma noite muito escura.
Até onde ele vai? Qual será o seu fim?
Dia a dia acabamos descobrindo que ele é sempre mais fundo. E quanto mais fundo descemos, mais sentimos o seu mau cheiro.
Queremos acumular muitas cargas, que julgamos serem úteis. Mas elas apenas nos fazem descer mais e mais rapidamente. Pesos mortos que carregamos.
Estamos em um poço em uma noite escura.
Há tempos não vemos a luz do sol. Os sonhos se foram, e os bons exemplos, se foram com eles.
Quem ousará falar da luz? Quem ousará levantar os olhos em direção à abertura? Quem ousará apontar o dedo a alguém? Juntos nos tornamos inúteis.
Estamos em um poço.
A inveja é a nossa lei. Quanto mais nos afundamos, mais temos vontade de levar outros conosco.
Nossas paredes são negras como o piche. O futuro não nos preocupa, pois apenas queremos nos manter respirando o maior tempo possível.
Um poço.
O ar se torna rarefeito. É difícil respirar. Mas continuaremos.
Ombro a ombro nesta louca peregrinação.
Onde somente a morte nos livrará... finalmente... de nós mesmos.
sexta-feira, 4 de maio de 2012
Diálogos: O Valor de um Reflexo
- O que é um reflexo?
- É a dobra da luz, indo na direção de algo e voltando até nós.
- O que é necessário para que ele ocorra?
- É preciso ter uma fonte de luz e uma superfície lisa e límpida o bastante para que a luz possa ser refletida.
- Qual é o valor de um reflexo?
- O reflexo pode ser um meio que torna possível aquele que o observa, conhecer a si próprio.
- Ele pode ser usado para conhecermos a nós mesmos?
- Sim. mas para isso devemos ter luz e uma superfície lisa e límpida...
- Não possuo luz própria, terei então que utilizar a luz de outrem?
- Sim, porém você não deve se colocar completamente na frente dela, ou não sobrará espaço para que ela se reflita e você possa ver a si mesmo.
- Quando colocamos um espelho na frente de outro o que acontece?
- Vemos a luz ser refletida infinitas vezes. Podemos perceber que conseguimos enxergar as reflexões até certo ponto, depois a curva dos reflexos saem de nosso foco, se perdendo para sempre no infinito.
- Tive uma ideia! Gostaria de ser um espelho! Assim eu poderia ver o infinito usando um outro espelho colocado exatamente a minha frente!
- Mas para isso, você ainda precisaria da luz...
- Verdade... Teria que usar uma fonte de luz externa?
- Fique tranquilo. Se você se tornar um espelho de verdade, a luz terá a oportunidade de se chocar em você. E então a própria luz usará seu reflexo para reconhecer-se a si mesma, através de você.
- Quem sabe ela poderá se lembrar de onde veio! Quais caminhos percorreu!
- É... Quem sabe...
quarta-feira, 2 de maio de 2012
A história de Raco Vorp, de costas para o espelho.
Quando eu era criança...
Eram bons tempos! Tudo era novo! Havia muita coisa a ser aprendida. Muita vida para ser vivida.
Desafios a serem aceitos, batalhas a serem vencidas. Enfim, boas promessas brilhavam no horizonte!
O que eu carregava em meu ser? Quase nada! Eu era leve e o mundo espelhava essa mesma leveza.
Porém o tempo faz valer sua força e a vida nos dá algo que nos diferencia dos demais. Sentia o desejo de sempre ir além, não importando o que acontecesse.
Aqui descobri enfim o maior fardo que o homem carrega.
O fardo da escolha.
Esse fardo pode ser a maior benção, ou a maior maldição.
Quão mais fácil seria se não tivéssemos escolhas?
Escolhi, e não pude deixar de seguir aquele desejo...
A situação se apresentou, meu riso mudou, e caí de meu estado de leveza. Cada vez mais me tornei pesado. Fiz coisas que não queria, coisas que sabia que lá no fundo eram erradas.
Mas o orgulho carrega um estandarte maior que o da vergonha.
E toquei a vida... levando um dia após o outro.
Com a bandeira do orgulho hasteada, passei a impor meu crivo sobre tudo. Tudo tinha a "benção" de poder receber minha crítica afiada.
Eu tinha as respostas para as perguntas, resolvia as equações que não sabia, já não tinha nada mais para fazer, a não ser dizer e declarar as minhas "verdades".
Passei a troçar de outros que discordavam de minhas opiniões, já que ouvi que a melhor defesa, era o ataque.
O que eu buscava mesmo era me esconder. Pois lá no fundo eu era apenas o menino mirrado que fez más escolhas. Que me deixei levar pelo medo. Que não aguentava mais o olhar daquele outro.
Que outro? Vocês irão perguntar.
Do outro que ficava atrás do espelho... quando eu era criança.
segunda-feira, 30 de abril de 2012
O Dilema do Ouriço
Era uma vez um ouriço.
Vivia sempre sozinho apesar de desejar muito a companhia de outros.
Alguns até tentavam se aproximar dele, porém não conseguiam devido aos seus pontiagudos espinhos.
Quando ele tentava se aproximar de alguém, a mesma coisa acontecia. Cedo ou tarde ele acabava ferindo esse alguém.
Por sua triste sina, ele foi viver no fundo da terra, já que sua "toca" era a única que não reclamava de suas constantes cutucadelas.
Certa vez ele estava observando o dia de dentro de sua toca, triste e solitário.
Foi então que notou uma grande lagarta verde que se arrastava em uma vegetação à sua frente.
Notou que ela tentava entrar em um buraco numa casca de árvore, porém seu corpo era maior que o buraco.
Ela subiu num ramo de folha, tentou se esgueirar para dentro, mas não teve sucesso.
Foi então que o ouriço ficou penalizado pelo enorme esforço da lagarta e resolveu lhe ajudar.
Saiu de sua toca e usou seus espinhos para abrir um pouco mais o buraco para a lagarta.
E deu certo!
Ela conseguiu se esgueirar para dentro e lá ficou quieta.
O ouriço observou mais um pouco para ver se algo mais aconteceria, mas após algum tempo, resolveu voltar a cuidar de sua solitária vida.
E assim o tempo passou. A vida correu e o inverno chegou.
O ouriço tinha feito um bom estoque de alimentos em sua casinha então pensava apenas em como seria bom ter uma companhia. Alguém para dividir toda aquela fartura de sua toca.
Na primavera todos os bichos começaram a sair de suas tocas para receber os primeiros raios de sol.
Mas ele não.
Ficou ali parado observando a alegria de todos. Muitos filhotes davam seus primeiros passos e espalhavam alegria ao seu redor. Até ele sorriu levemente...
Foi quando notou que no buraquinho da árvore saia algo majestoso!
Uma bela borboleta azul agora exercitava suas asas em direção ao dia da primavera.
O ouriço observou a beleza de suas asas e lembrou de quando havia ajudado lagarta a entrar naquele buraquinho.
Ficou muito grato por ter podido ajudar tão bela criatura.
Quando a borboleta alçou voo, todos os animais ao redor ficaram maravilhados e muitos a seguiam aonde quer que ela fosse, buscando ver sua beleza um pouco mais.
Ela saiu de perto da toca do solitário ouriço enquanto outros animais a seguiam. Ele apenas a acompanhou com os olhos e caiu no sono.
Algum tempo passou...
De repente sentiu uma forte espetada em sua pata direita. Quando abriu os olhos viu uma bela ouriça a sua frente.
- Olá! Você mora ai? A muito tempo procuro algum amigo da minha espécie! Hoje estava passeando pelo bosque e vi essa linda borboleta azul. Não pude deixar de segui-la e acredite, ela pousou exatamente aqui na frente da sua toca!
E assim o ouriço, que cria ter uma vida solitária até o fim dos seus dias, viveu muito feliz ao lado da ouriça.
Ele então passou a acreditar na sorte. Mas será que existe mesmo sorte?
segunda-feira, 2 de abril de 2012
Em uma Caixinha de Clipes...
Era uma vez um clipe.
Desde muito cedo questionava qual era o sentido de sua existência.
Lembrava de seus tempos de arame, quando ainda não tinha forma definida.
Naqueles dias era um só com todos os seus irmãos, enrolados em uma grande bobina de ferro. Não tinha consciência de seu começo ou de seu fim e assim vivia em unidade.
Porém chegou um dia em que foi colocado em uma estranha máquina, que passou a cortá-lo e contorcê-lo até ficar em um formato definido: o de um clipe!
Então ele passou a ter uma consciência separada, pois agora possuía seu próprio limite, formato e função.
E assim também aconteceu com seus irmãos. Todos foram formatados de acordo com as necessidades de outros, afim de servirem a uma determinada função que lhes foi imposta.
Logo foram colocados em caixas, embalados e distribuídos pelo mundo afora.
Quando ainda estavam na caixa, procuravam se enroscar uns aos outros para não se sentirem tão sós.
Alguns até conseguiam, mas logo que chegavam ao consumidor final, eram cruelmente separados uns dos outros e colocados nos locais mais diversos.
A maioria ia parar em frios escritórios, onde eram obrigados a trabalhar sem descanso. Tinham que dar a sua vida para segurar várias páginas, até que não aguentavam mais e rebentavam.
Alguns tinham mais sorte e conseguiam ficar presos em páginas próximas, outros porém eram colocados em muitas páginas e torcidos por pouquíssimo tempo, sendo imediatamente descartados após seu uso.
Outros eram apenas retorcidos e jogados fora sem ao menos terem sido utilizados.
Muitos eram os destinos e a sorte destes pobres clipes.
Porém no mais profundo de seu ser havia uma saudade. Lembravam com nostalgia de quando não se reconheciam como "indivíduos", de quando não eram "separados" e estavam ligados no "fio" da corrente eterna.
Mas eis que o tempo passa...
Muitos deles ficaram anos presos anos e enferrujaram junto aos seus velhos e amarelecidos documentos.
Porém todos, mais cedo ou mais tarde, acabaram tendo o mesmo destino: o lixo.
Amassados, sem sua antiga forma ou ainda em frangalhos, eles eram colocados em uma grande caixa que continha muitos de seus irmãos e parentes próximos: clipes, pregos, parafusos, etc,.
Todos rumavam para um lugar muito quente e a medida que se aproximavam, percebiam que iam perdendo os últimos traços de sua personalidade.
E esse foi o fim dos clipes e de sua solitária e triste história.
Mas eis que todo fim encerra um novo começo!
Juntamente com alguns de seus outros parentes eles puderam ser unidos pelo fogo, forjados e moldados em algo novo!
E que alegria veio com esse "novo"!
Perderam sua consciência de "clipes" e assumiram seu papel de "gira-gira" em um parquinho de uma vila.
Puderam com a sua morte e transformação dar alegria a muitas crianças e lhes mostrar, com seu exemplo, que tudo é uma eterna roda.
O "gira-gira" da vida e da morte.
terça-feira, 27 de março de 2012
Palavras ao Vento
No seio da terra, nas mais profundas cavernas corre o sangue da terra: A lava fervente.
Todos já ouvimos a expressão: Estou com o sangue fervendo! E a usamos quando estamos furiosos.
Isso é uma verdade velada que nos foi passada através de uma expressão, válida em várias línguas diferentes. Nosso sangue pode realmente ferver e inflamar-se.
Atlover conhecia essa verdade e a utilizava para seus propósitos.
Quando desejava algo, era mestre em inflamar seu sangue para lutar pelo objetivo desejado.
Quanto mais inflamado estava seu sangue, mais fácil era influenciar outros a segui-lo, pois as pessoas deixam de raciocinar quando estão enfurecidas.
Quanto mais inflamado estava seu sangue, mais fácil era influenciar outros a segui-lo, pois as pessoas deixam de raciocinar quando estão enfurecidas.
Assim acabavam lutando contra problemas que na maioria das vezes elas mesmas causaram, seja por omissão ou por ignorância.
Atlover reclamava das injustiças da vida, desde muito jovem.
Reclamava que quando sua avó morreu, ele nunca mais pôde comer o seu delicioso pão.
Mas enquanto ela esteve viva, nunca se preocupou em aprender a receita.
Reclamava que as pessoas eram egoístas, mas sempre era o primeiro a enfiar um doce inteiro na boca para não dividir com os outros.
Reclamava que o planeta estava cada vez mais poluído, mas nunca se deu conta da sujeira que gerava cada vez que preferia jantar em um Fast-Food, ao invés de fazer comida em casa.
Reclamava que sua vida era chata e rotineira, mas nunca se mexeu um palmo para que ela mudasse. Era como seu antigo professor dizia: A ação nasce do pensamento. Como podemos ter novas atitudes se continuarmos pensando como sempre fizemos?
Conforme crescia seu sangue fervia com maior intensidade.
As vezes nem se dava conta se a causa era nobre ou não. Isso não importava! O importante era dar vazão aquela torrente de magma que brotava em seu ser.
E assim viveu muitos anos, como um vulcão sempre prestes a entrar em erupção. Não escolhia entre bons e maus. Todos os que estivessem ao seu redor poderiam sentir o calor do magma e as labaredas de sua língua. Ele assim gerava conforto e novos impulsos em alguns e desgraça e morte para outros.
E assim viveu muitos anos, como um vulcão sempre prestes a entrar em erupção. Não escolhia entre bons e maus. Todos os que estivessem ao seu redor poderiam sentir o calor do magma e as labaredas de sua língua. Ele assim gerava conforto e novos impulsos em alguns e desgraça e morte para outros.
Um dia estava a caminhar em uma praça até chegar ao seu centro. Viu então um velho gari limpando a sujeira de uma fonte. Foi até ele e perguntou:
- O senhor não acha o mundo injusto? Por que uns têm que ter mais do que os outros? Não acha que lhe faltou oportunidade na vida?
O velho gari respondeu:
- O que o fez pensar que sua vida é melhor do que a minha? A ponto de o senhor poder julgar que o mundo foi injusto comigo, ou que não tive oportunidade? Julga pela minha aparência? Saiba que sou muito instruído, e na melhor escola que existe. A Vida.
- Meu nome é Airomem. Já fui de tudo nessa vida. Já fiz de tudo e a vida já me deu muito. Não me fale em oportunidades, pois eu já tive e tenho muitas.
- Sabe qual é a diferença entre nós dois? É que eu me lembro de cada chance desperdiçada, de cada passo tomado por impulso e de cada vez que agi com o meu sangue fervendo, abrindo mão de tudo e de todos.
- Você quer crer que o mundo é injusto, tudo bem, mas saiba que a fonte da injustiça é você. Cada um só enxerga aquilo que quer ver.
- Se o seu mundo é belo, não procure a beleza no mundo, e sim em você.
- Se o seu mundo é injusto, saiba que você é causa da injustiça.
- Meu nome é Airomem. Já fui de tudo nessa vida. Já fiz de tudo e a vida já me deu muito. Não me fale em oportunidades, pois eu já tive e tenho muitas.
- Sabe qual é a diferença entre nós dois? É que eu me lembro de cada chance desperdiçada, de cada passo tomado por impulso e de cada vez que agi com o meu sangue fervendo, abrindo mão de tudo e de todos.
- Você quer crer que o mundo é injusto, tudo bem, mas saiba que a fonte da injustiça é você. Cada um só enxerga aquilo que quer ver.
- Se o seu mundo é belo, não procure a beleza no mundo, e sim em você.
- Se o seu mundo é injusto, saiba que você é causa da injustiça.
Atlover ouviu atônito as palavras do velho. Ele apenas queria ajudar, mas ouviu uma resposta diferente da que estava acostumado. Normalmente as pessoas divagavam um pouco e concordavam que a vida era assim mesmo. Colocavam a culpa em alguém, geralmente os governantes, e depois seguiam seus caminhos.
Mas Airomem não! Ele tinha jogado a responsabilidade de volta a Atlover.
Mas Airomem não! Ele tinha jogado a responsabilidade de volta a Atlover.
O sangue de Atlover ferveu, quando tentou dizer algo o velho respondeu:
- Meu caro amigo. Já sei aonde isso vai nos levar. Já passei por isso antes. Você vai dizer vários argumentos que, na verdade, já são imutáveis para você. Caso eu não concorde, você irá acreditar que tenho uma visão distorcida do mundo e que a sua é a melhor. Dará com os ombros, virará as costas e se sentirá melhor, pois acreditará ter feito "a sua parte". Sendo assim o poupo de tagarelar. Pode seguir seu caminho agora.
E continuou a limpar a fonte.
Emudecido, Atlover ficou parado por alguns instantes e pela primeira vez na vida sentiu um estranho cansaço.
Ficou cansado de toda a tagarelice e dessa eterna falta do que falar.
Quando virou-se para ir embora o velho o chamou:
- Poderia me ajudar um pouco? Já não tenho mais a velha força de antigamente. Me sinto cada vez mais fraco.
Atlover pensou: Porque não?
Pegou a vassoura das mãos do velho e começou a varrer a sujeira da fonte. A cada varrida sentia como se estivesse se tornando mais leve.
Então o velho ficou sentado observando e sorriu. Atlover tinha aprendido que o melhor caminho para a mudança era o exemplo pessoal e não palavras soltas ao vento.
- Meu caro amigo. Já sei aonde isso vai nos levar. Já passei por isso antes. Você vai dizer vários argumentos que, na verdade, já são imutáveis para você. Caso eu não concorde, você irá acreditar que tenho uma visão distorcida do mundo e que a sua é a melhor. Dará com os ombros, virará as costas e se sentirá melhor, pois acreditará ter feito "a sua parte". Sendo assim o poupo de tagarelar. Pode seguir seu caminho agora.
E continuou a limpar a fonte.
Emudecido, Atlover ficou parado por alguns instantes e pela primeira vez na vida sentiu um estranho cansaço.
Ficou cansado de toda a tagarelice e dessa eterna falta do que falar.
Quando virou-se para ir embora o velho o chamou:
- Poderia me ajudar um pouco? Já não tenho mais a velha força de antigamente. Me sinto cada vez mais fraco.
Atlover pensou: Porque não?
Pegou a vassoura das mãos do velho e começou a varrer a sujeira da fonte. A cada varrida sentia como se estivesse se tornando mais leve.
Então o velho ficou sentado observando e sorriu. Atlover tinha aprendido que o melhor caminho para a mudança era o exemplo pessoal e não palavras soltas ao vento.
terça-feira, 20 de março de 2012
O Perfume da Rosa
Ola! Primeiro vou lhes contar a história de Opmet.
Opmet era um homem muito ocupado. Todo os dias ele:
Acordava, tomava banho, se vestia, tomava café da manhã, ia para o trabalho, trabalhava, almoçava, trabalhava, voltava do trabalho, jantava, tirava a roupa, tomava banho e dormia.
Ele não parava um segundo. Considerava-se muito importante por causa disso. Pois sempre:
Acordava, tomava banho, se vestia, tomava café da manhã, ia para o trabalho, trabalhava, almoçava, trabalhava, voltava do trabalho, jantava, tirava a roupa, tomava banho e dormia.
Olhava algumas pessoas com desdém, pois muitos gostariam de estar em sua posição. Nem todo mundo:
Acordava, tomava banho, se vestia, tomava café da manhã, ia para o trabalho, trabalhava, almoçava, trabalhava, voltava do trabalho, jantava, tirava a roupa, tomava banho e dormia.
E assim passavam os minutos, as horas, os dias, os meses e os anos...
Ah! Preciso lhes contar também a história de Edadinrete.
Edadinrete era florista. Cultivava flores em seu jardim no fundo de sua pequena casa.
Vocês sabem como se cultivam flores? Não é algo que acontece de uma hora para outra.
Ela trabalhava a terra com suas mãos e adubava bastante para lhe dar os nutrientes. Depois ela colocava delicadamente cada sementinha no seio da terra. E agora?
Agora era somente aguardar que o grande milagre acontecesse? Não!
Era necessário cuidar das sementinhas. Como ela fazia isso?
Regando-as todos os dias, protegendo-as das intempéries e até mesmo cantando para elas.
Sim! Edadinrete cantava para suas flores e sua voz acalentadora era recebida com alegria por cada sementinha, lá no fundo da terra. Suas flores eram famosas por sua vistosidade e vitalidade.
Todos os dias ela as levava para a cidade e as oferecia para as pessoas. A todo o momento, muitas passavam apressadas de um lado para outro.
A grande maioria nem notava as belas flores de Edadinrete, algumas admiravam sua beleza de longe, outras chegavam perto e sentiam o seu perfume, mas quase nenhuma tomava uma flor para si.
Mas Edadinrete não se abatia, ela conhecia os corações dos homens e tinha paciência para aguardar a hora de cada um.
Em uma manhã de sol especialmente bela, Opmet estava muito atrasado, andava praticamente correndo, pois hoje tinha uma reunião muito importante.
Ao passar em frente a estação de trem ouviu uma doce voz. Sentiu algo em seu coração. Parou e viu algumas belas flores em meio a todo aquele cinza da cidade.
Se aproximou a passos curtos da barraca com as flores. Pegou delicadamente uma bela rosa branca, levou-a até o rosto e sentiu o aroma perfumado percorrer seus pulmões.
Por um instante esqueceu completamente de sua reunião, de seu trabalho e de sua vida... enfim, naquele exato momento acabou esquecendo de si mesmo.
Mas eis que os grilhões do mundo reclamaram novamente seus direitos e Opmet ouviu o apito agudo do trem que chegava na estação.
E assim Opmet retornou à casca dos sentidos e de seu "eu", partindo apressadamente em direção à estação.
Edadinrete, que assistiu a tudo, o acompanhou com os olhos até que ele desapareceu na multidão.
Ela sorriu levemente e continuou a cantarolar.
Quem sabe amanhã?
terça-feira, 13 de março de 2012
A História da Família Açar
Era uma vez um grande rei que governava com Igualdade, paciência e clemência. Seu nome era Acinu Açar.
Durante os anos de seu reinado, seu povo era feliz e vivia em harmonia, pois tudo era dividido da forma mais justa possível.
Até mesmo seu castelo não ostentava nenhum luxo desnecessário, tinha apenas o necessário para se defender.
Todos no reino gostavam muito da forma com que ele lidava com as mais diversas contendas. Sua máxima era:
"Somos todos diferentes por natureza. Mas qual seria o mérito de nossa vida se apenas perpetuássemos essas características animais? São os ideais que nos diferenciam das bestas e dão beleza e sentido à arte de viver".
Acinu Açar possuia quatro filhos. Cada um com características bem diferentes.
Acnarb Açar = O mais jovem de todos. Era imponente e acreditava ser o melhor de todos. Sua fama era de implacável na busca pelo poder. Era muito ágil e tinha seus olhos continuamente voltados para a própria vaidade e a busca de bens materiais.
Argen Açar = O mais velho de todos. Já havia passado por inúmeras batalhas e carregava o fardo de seu passado sofrido. Possuía grande resistência física e moderação em suas atitudes. Quando jovem, o povo o considerava inconsequente, porém com o passar dos anos, adquiriu muita sabedoria, bagagem inerente ao sofrimento por que passara.
Alerama Açar = Era sem dúvida o mais inteligente de todos, algumas de suas ações beiravam a perfeição. O povo achava que por ser extremamente calculista, possuía um coração frio e tinha dificuldade em expressar seus reais sentimentos.
Ahlemrev Açar = Era muito emotivo e também sofrera muito no passado. Quase sempre estava a parte, buscando levar a sua vida da maneira mais tranquila possível. Não tinha ambições ao trono e era famoso entre o povo pelo seu bom coração e nobreza.
Um dia o rei chamou seus quatro filhos para uma conversa:
- Já vi muitos invernos, tantos que nem consigo me lembrar. Um dia eu partirei desta terra e vocês serão os responsáveis pelo destino do reino. Faço votos para que não esqueçam o laço que os une.
Após algum tempo o rei veio a falecer e a tristeza tomou conta de todos.
Reuniram-se então os quatro irmãos para uma conversa. Ela transcorreu bem inicialmente e de forma harmônica, porém os ânimos foram se alterando conforme a morte do rei era vivenciada.
Acnarb Açar estava convencido de que o melhor para o reino seria a expansão. Deveriam conquistar novos territórios e expandir a grandeza do nome de seu pai.
Argen e Ahlemrev não aprovaram a ideia. Alerama apoiou discretamente.
E esse foi o início da divisão entre os quatro irmãos. Mais tarde cada um fundou seu próprio reino, juntamente com as pessoas de seu povo que lhes eram partidárias.
Para o pesar dos mais antigos entre o povo, os descendentes dos quatro irmãos continuam até hoje vivendo em desarmonia.
Mas existe uma profecia quase esquecida feita por um velho ancião do reino. Ela fala do retorno de Acinu Açar, da reunificação do reino e da volta dos tempos de paz e bem aventurança.
Dizem que uma profecia só se concretiza se os que creem nela trabalharem para que ela aconteça.
Mas como eu disse, ela esta quase esquecida...
Mas o laço que une os filhos de Acinu Açar é imortal. Ainda há esperança!
Um dia o rei chamou seus quatro filhos para uma conversa:
- Já vi muitos invernos, tantos que nem consigo me lembrar. Um dia eu partirei desta terra e vocês serão os responsáveis pelo destino do reino. Faço votos para que não esqueçam o laço que os une.
Após algum tempo o rei veio a falecer e a tristeza tomou conta de todos.
Reuniram-se então os quatro irmãos para uma conversa. Ela transcorreu bem inicialmente e de forma harmônica, porém os ânimos foram se alterando conforme a morte do rei era vivenciada.
Acnarb Açar estava convencido de que o melhor para o reino seria a expansão. Deveriam conquistar novos territórios e expandir a grandeza do nome de seu pai.
Argen e Ahlemrev não aprovaram a ideia. Alerama apoiou discretamente.
E esse foi o início da divisão entre os quatro irmãos. Mais tarde cada um fundou seu próprio reino, juntamente com as pessoas de seu povo que lhes eram partidárias.
Para o pesar dos mais antigos entre o povo, os descendentes dos quatro irmãos continuam até hoje vivendo em desarmonia.
Mas existe uma profecia quase esquecida feita por um velho ancião do reino. Ela fala do retorno de Acinu Açar, da reunificação do reino e da volta dos tempos de paz e bem aventurança.
Dizem que uma profecia só se concretiza se os que creem nela trabalharem para que ela aconteça.
Mas como eu disse, ela esta quase esquecida...
Mas o laço que une os filhos de Acinu Açar é imortal. Ainda há esperança!
quinta-feira, 8 de março de 2012
Imagens no Espelho
O que reflete o meu espelho?
Imagens distorcidas?
Contos inacabados?
Futuro indeterminado?
O que eu projeto de volta?
Certezas exatas?
Histórias já escritas?
Sim! O passado com certeza!
A vida é assim, é constituída de escolhas. Uma leva a um caminho e outra a outro.
Mas as escolhas diferentes levam a futuros diferentes? Ou é apenas pura ilusão?
O que importa não são nossas escolhas, mas sim o que carregamos conosco.
Se carregarmos as certezas do passado, como podemos esperar ter um futuro diferente?
Abandonar é ter a possibilidade de se renovar.
Só podemos preencher algo se este estiver vazio.
O vazio representa o espaço para a oportunidade.
Onde está Deus? Conseguimos pegá-lo ou vê-lo?
Não! Deus é o vazio dos vazios, e por isso mesmo é a oportunidade das oportunidades.
Enfim, vivemos a realidade ou acreditamos em imagens no espelho?
sexta-feira, 2 de março de 2012
A Marcha
"Esquerda, direita!
Direita, esquerda!
A ordem é se mover sem parar!
Porém surge uma dúvida! Com qual pé devemos começar?"
Nesse instante pensou Ratilim. Que esteva parado, com intenções de se mexer.
- Posso escolher os dois, mas o que diferencia um do outro? Porque só podemos começar com apenas um deles?
E assim ele começou a ponderar, Já sei! Devo usar o Direito!
Várias coisas na vida se baseiam nessa palavra!
Temos vários DIREITOS! Isso é, algo que nos é garantido.
Quando fazemos algo certo, fazemos DIREITO.
Isso vale até em outra línguas, como no inglês por exemplo (Right?)
O mais comum é a criança nascer DESTRA (DIREITA) e não canhota (ESQUERDA).
Nesse instante Ratilim parou, olhou para seu pé esquerdo e disse para si mesmo:
- Mas o que tem de tão errado no esquerdo? Porque só o direito é valorizado?
O esquerdo também possui suas virtudes!
O coração fica do lado esquerdo.
Começamos a escrever da esquerda para a direita.
A aliança de casamento é colocada na mão esquerda.
Examinou com mais vagar e concluiu:
O esquerdo é apenas diferente, chega a ser o oposto! Mas possui a mesma função, equivale ao direito!
Não se pode ficar de pé sem que os dois existam!
Um está fadado a glória e o outro a derrota... Mas quem é quem? O movimento só é possível porque eles se alternam a todo o momento.
Quer saber? Não importa com qual irei começar! O que importa é para onde estarei caminhando...
E assim marchou Ratilim, com um leve sorriso no rosto.
quinta-feira, 1 de março de 2012
Odnum, o frio e a solidão
O que foi, de novo será.
Essa é a profecia que diziam os antigos. E assim é.
E nasceu uma criança, seu nome era Odnum.
Desde cedo possuía as características de realeza herdadas de seus pais, era limpo e muito elegante.
Porém a concupiscência também encontrava morada em seu ser...
E ela se manifestou e ele foi envolvido completamente em trevas.
Dessa forma Odnum esqueceu seu verdadeiro nome e passou a ser conhecido como Odnumi.
Que castigo maior pode existir do que se tornar prisioneiro e carcereiro dentro de si mesmo?
Foi então condenado a solidão por causa do caos que se instalou em seu ser, e sua companhia passou a ser evitada.
Hoje, vários são seus "eus", que clamam sua atenção a cada instante.
Uns o puxam a direção para a direita, outros para a esquerda.
Todos se alimentam da morte, para depois serem alimento da mesma morte.
A luta constante em seu interior resulta em apatia, constantes decepções e incertezas.
E esta tornou-se a sua sina. Um rei em seu deserto de areia. Um peregrino na vastidão de seu próprio ser.
O medo é seu quinhão, a ilusão é o palco e a insensatez figura como atração principal.
E assim vive Odnumi, de tropeço em tropeço, carregando sempre o deserto consigo.
Conseguirá ele um dia atravessar esse vasto deserto e enxergar a verde carcaça da esperança?
Conseguirá ele extinguir a luta constante que ocorre em seu interior?
Conseguirá ele quebrar a ilusão que o aprisiona e obter novamente a realeza que lhe foi subtraída?
Odnumi precisa mudar, mudar radicalmente.
Ele precisa não dar ouvidos aos Totens da insensatez generalizada.
Ele precisa derrubar a ilusão que o leva a caminhos inúteis.
Ele precisa abandonar o medo, que erroneamente acredita ser parte de si mesmo.
Mas o principal é que ele deve lembrar seu verdadeiro nome: Odnum, o limpo e elegante.
Existe esperança para Odnum?
O que nos resta é confiar na profecia dos antigos.
O que foi, de novo será!
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
O Escorpião e o Sapo
Certa vez, em meio a uma grande enchente, um escorpião aproximou-se de um sapo.
O escorpião vinha fazer um pedido:
- Sapo, você poderia me carregar para outro lugar para fugir da inundação?
O sapo respondeu:
- Só se eu fosse tolo! Você vai me picar, eu vou ficar paralisado e vou afundar.
Disse o escorpião:
- Isso é ridículo! Se eu o picasse, ambos afundaríamos.
Confiando na lógica do escorpião, o sapo concordou e levou o escorpião nas costas, enquanto nadava para atravessar o rio.
No meio do rio, o escorpião cravou seu ferrão no sapo.
Atingido pelo veneno, e já começando a afundar, o sapo voltou-se para o escorpião e perguntou:
- Por quê me ferroou? Agora ambos vamos morrer! Por quê?
E o escorpião respondeu:
- Por que sou um escorpião e essa é a minha natureza.
*Antiga lenda indiana. Século 3 AC.
http://en.wikipedia.org/wiki/The_Scorpion_and_the_Frog
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